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‘Quem nos separará do amor de Cristo? O sofrimento, a aflição, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? Porque está escrito: Por causa de ti somos entregues à morte cada dia; somos tratados como ovelhas que vão para o matadouro. Mas de tudo isso saímos vencedores por meio daquele que nos tem amado. Estou convencido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os poderes, nem as coisas presentes ou futuras, nem as forças, nem a altitude, nem a profundeza, nem outra criatura qualquer poderá nos separar do amor que Deus nos manifesta em Cristo Jesus, Senhor nosso.’ (Rm 8, 35-39)


A consciência do cristão diante da chegada da morte

n/d

Abaixo, alguns tópicos que analisam a postura de um cristão frente à morte, tomando por parâmetro a vida do apóstolo Paulo de Tarso, mártir, conforme o contido na Bíblia.

 

Tópico 1: ‘A consciência da morte não traz desespero ao crente fiel’

 O apóstolo Paulo, antevendo seu martírio, compara a sua morte com uma oferta de libação. Era costume derramar vinho sobre o holocausto ou sacrifício (Nm 28.7). Nesse sentido, o seu sangue derramado na morte seria consagrado em favor do reino de Deus.

Para entendermos o valor do martírio cristão devemos vê-lo sob três perspectivas:

1 – A perspectiva do mártir. É a prova final e cabal da redenção do cristão. O amor se expressa na forma de renúncia. Quando queremos mostrar a outrem o nosso amor, renunciamos tempo, dinheiro, conforto ou orgulho em favor dele. O amor a Deus não é diferente: se prova com renúncia (Mt 10, 37-39), e marchar rumo ao martírio é desistir de tudo, tal qual fez o Senhor quando entregou-se por nós, não há demonstração maior de amor (Jo 15,13).

2 – A perspectiva do mundo. É o selamento do testemunho. Ninguém pode duvidar da legitimidade da crença de alguém que dá a própria vida por uma causa. Os apóstolos eram testemunhas da ressurreição do Senhor Jesus e, muitos deles, selaram o seu testemunho com o próprio sangue. Alguém que contasse uma mentira – ou mesmo uma verdade! – visando alguma vantagem, desistiria de imediato de sustentá-la quando se visse ante a morte, depois nela qualquer vantagem cessaria. O martírio dos apóstolos constitui prova da veracidade do testemunho cristão a respeito do Nazareno ressurreto.

3 – A perspectiva de Deus. É um sacrifício ao Senhor. Paulo via o martírio como uma forma de oferta de libação (2 Tm 4.6; Fl 2.17) e João descreve ter visto as almas dos mártires como que ‘debaixo do altar’ (Ap 6, 9). Debaixo do altar é para onde o sangue dos sacrifícios escorria. O mártir oferece a Deus o último e melhor sacrifício: a sua vida.

É interessante notar que, diferente do que normalmente se esperaria de uma pessoa prestes a morrer, Paulo encara sem temor o seu martírio na segurança de que está na palma da mão de Deus.

Paulo, como já fizera, vale-se da analogia do atleta em 2Tm 4, 7-8. Quatro expressões merecem destaque no texto:

Combati o bom combate’ – o ‘combate’ aqui é αγων ‘agon’ e faz referência à competição olímpica, mais propriamente as de luta corpo-a-corpo. Paulo se sentia como um atleta no final de uma competição vitoriosa. E diferente dos jogos sangrentos que se praticavam no Coliseu, ele competiu num ‘bom’ combate, com propósitos mais elevados e com um prêmio incomparavelmente melhor

completei a carreira’ – a analogia aqui é com o maratonista que percorria longas distâncias ansiando por terminar a carreira como vitorioso e receber a almejada recompensa.

guardei a fé’ – Nas Panatenéias, festas realizadas em homenagem à deusa Atena, havia a Corrida das Tochas, disputada por cinco equipes, com 40 atletas cada. A tocha devia ser levada até o fim, não podia se extraviar e a chama não podia se apagar e a equipe vencedora era a que conseguisse acender a fogueira no Altar de Prometeu, no marco da chegada. Paulo conseguira levar a tocha da fé, sem extraviá-la ou apagá-la, até o fim de seu ministério e agora podia repassar essa chama para Timóteo e os outros cristãos.

a coroa da justiça me está guardada’– A ‘corona triumphalis’ era feita de folhas de louro e era usada como prêmio nas competições. Os atletas passavam por rigoroso treinamento corporal focando em recebê-la; esta coroa, porém, com pouco tempo murchava, já a coroa almejada pelo cristão é eterna e bem mais gloriosa (1 Co 9, 25).

Diante da perspectiva gloriosa do martírio e com o sentimento de dever cumprido diante do Senhor, Paulo não demonstrou medo ou frustração diante da morte, pelo contrário, ele ansiava estar com Cristo e receber a coroa da justiça (Fl 1, 23).

 

Tópico 2: ‘O sentimento de abandono’

Nos versículos 9-15 (em 2Tm 4), oito pessoas recebem atenção: Timóteo, Demas, Crescente, Tito, Lucas, Marcos, Tíquico e Alexandre.

A Timóteo, Paulo roga que venha vê-lo depressa, visto já antever o próprio martírio, o apóstolo dos gentios queria ver seu amado filho na fé uma última vez. E para que Éfeso não ficasse sem alguém que defendesse a igreja dos hereges, Paulo envia Tíquico para tomar o lugar de Timóteo, esse que foi, provavelmente, o mensageiro que trouxe a epístola a Timóteo. Isso demonstraria ser Tíquico alguém da mais inteira confiança de Paulo (At 20, 4; Éf 6, 21; Cl 4, 7; Tt 3, 12). Também manda chamar a Marcos que dantes fora a razão da separação entre Paulo e Barnabé, este agora, mais maduro, era cooperador do apóstolo e muito útil no ministério (compare At 15, 37-39 com Cl 4, 10; v. 11).

Demas figura como cooperador de Paulo em Cl 4, 14 e Fm 24. Paulo o condena severamente dizendo ter sido abandonado por ele e que o tal ‘amou o presente século’. Não temos certeza dos detalhes do que aconteceu, o que podemos aferir do texto é que ele preferiu a sua conveniência própria e os deleites materiais a estar com Paulo, o entregando à própria sorte.

Paulo se sente solitário e abandonado tendo sido traído por Demas e estar sem a companhia de Tito e Crescente. Apenas Lucas ficara com o apóstolo, este médico amado que, merecidamente, é considerado o amigo mais próximo de Paulo.

Em sua solidão Paulo encontra forças para se preocupar com Timóteo e lhe prevenir contra homens como Alexandre que, segundo o texto, contradisse e causou prejuízos ao apóstolo. Não podemos ter certeza, mais é provável que este seja o mesmo de At 19, 33 e 1 Tm 1, 20.

 

Tópico 3: ‘A certeza da presença de Cristo’

Não sabemos se Paulo, ao dizer ter sido desamparado, se referia ao seu primeiro julgamento decorrente da prisão relatada nos últimos capítulos do livro de Atos, do qual fora inocentado, ou se fala de uma audiência preliminar ao julgamento principal já nesse seu último encarceramento. Em todo o caso, o fato é que aqueles que poderiam ajudar a Paulo como testemunhas em seu julgamento não o fizeram, talvez por temerem participar do mesmo destino do apóstolo.

Imaginemos o quão sofrido tenha sido ao apóstolo dos gentios sentir a ingratidão e desamparo daqueles que podiam socorrê-lo em seus momentos mais difíceis. Depois de tanto sofrimento em prol da saúde da igreja, Paulo agora se via entregue à própria sorte por aqueles a quem tanto procurara ajudar.

Mas longe de guardar rancor ou desanimar, Paulo:

  • Perdoou aqueles que o abandonaram (v. 16);
  • Buscou amparo e força no Senhor (v. 17);
  • Enxergou a oportunidade de usar seu sofrimento em prol do Reino de Deus (v. 17).

Tal qual aconselhara a Timóteo, Paulo se fortaleceu ‘…na graça que há em Cristo Jesus’ (2 Tm 2.1). Se apegou Àquele que nunca o desampararia e assim pôde triunfar da solidão, desamparo, medo e tristeza! Paulo se alegrou no vislumbre do seu eterno futuro glorioso ao lado D’aquele que o podia levar a salvo para o Seu reino celestial (v. 18). Sigamos o seu exemplo, mantenhamos o foco no nosso alvo, os homens nos deixam, mas o Senhor estará conosco até a consumação dos tempos (Mt 28, 20)

 

   ‘Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?’ (1 Cor 15, 55)

 

 

Fonte: https://ebdnanet.wordpress.com/

(Título original: O líder diante da chegada da morte)


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Quarta-feira, 24 de Abril de 2024










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