Gigantes da internet sabem sua localização, idade, gênero, vídeos que vê e apps que usa.
Basta observar os anúncios dos portais de notícias e das redes sociais para ter a nítida sensação de que alguém está lendo e ouvindo nossas conversas. Teoria da conspiração? Paranoia? Nada disso. As grandes empresas digitais – principalmente aquelas que oferecem serviços gratuitos, e-mail, redes sociais, apps de conversas instantâneas, como Google, Microsoft e Facebook – coletam e armazenam informações sobre cada usuário para oferecer a seus clientes anúncios ‘mais assertivos’.
E o mercado é enorme. O Google faturou globalmente com anúncios, só nos três primeiros meses de 2017, US$ 24,1 bilhões (R$ 70,6 bilhões). A empresa, que tem mais de 1 bilhão de usuários no mundo, não informa qual é o faturamento ou o público no Brasil. Em 2016, o Google faturou US$ 89,5 bilhões (R$ 294,4 bilhões): mais do que o PIB da Eslováquia no mesmo ano. Já o Facebook tem 117 milhões de brasileiros (56,3% da população do país) cadastrados em sua rede social e 2 bilhões em todo o mundo. Se fosse um país, seria o mais populoso da Terra. A rede social faturou US$ 26,8 bilhões (R$ 88 bilhões) no ano passado, mas também não informa o faturamento no Brasil.
Uma fonte do Facebook afirma que os dados para definir os anúncios que aparecem para os usuários são ‘desindividualizados’, mas confirma que, desde que a pessoa aceite a política de privacidade da empresa, todas as informações que estão na rede social, disponibilizadas no perfil e no comportamento, como as páginas e as postagens curtidas, podem ser usadas para isso.
O Google responde, em nota, que seu ‘objetivo é mostrar anúncios que sejam relevantes para os usuários’. ‘Para isso, usamos dados coletados de seus dispositivos, incluindo buscas e dados sobre localização, bem como websites e aplicativos usados, vídeos e anúncios vistos e informações pessoais fornecidas por eles, como faixa etária, gênero e interesses’, confirma.
As empresas contam com a anuência dos usuários, que, em sua maioria, aceitam a política de privacidade delas e dão, voluntariamente, acesso a conteúdo escrito, áudios, contatos, câmeras, localização, grupos de discussão e histórico de navegação de notebooks e smartphones.
‘A internet segmentou (o público) pelo interesse, de acordo com local, faixa etária, hábitos. Com isso, os anúncios do Google e do Facebook ficaram mais específicos e muito mais assertivos’, explica o fundador da Central Comm Publicidade Online, Alexandre Borges.
Leilão em tempo real
Duas pessoas navegando o mesmíssimo site vão ver publicidades diferentes. Os anúncios que aparecem na tela de cada uma são definidos por meio de um leilão que acontece em tempo real utilizando a computação. ‘O Google conta com o ‘rankbrain’, que é a tecnologia que usa inteligência artificial e aprendizado de máquina para automatizar o processo’, explica. O mercado de publicidade online estima que cerca de 90% dos sites brasileiros estejam cadastrados no Google e exibam anúncios pelo sistema de publicidade da empresa.
Sem permissão, sem serviços
Os usuários que optam por reduzir o acesso das empresas a seus dados acabam ficando sem o serviço ou perdem benefícios. ‘Quem retira as permissões de acesso pode ficar com uma versão com só 5% das funcionalidades’, explica o diretor de relações institucionais e mídia da Associação de Consumidores Proteste, Henrique Lian.
‘O que mantém a internet hoje são os anúncios. A forma que as empresas encontraram para monetizar e manter os serviços gratuitos foi essa’, diz o publicitário Alexandre Borges.
O próprio Google confirma essa lógica, ao afirmar em nota que boa parte dos seus negócios ‘baseia-se na exibição de anúncios’. ‘Os anúncios ajudam a manter nossos serviços gratuitos e úteis’, diz a nota. ‘Google e Facebook montaram seus modelos de negócio em cima da venda dessas informações. A alternativa é quase abandonar as redes sociais, teria de habilitar uma série de controles até na hora de navegar na internet’, declara um especialista na área de segurança digital que trabalhou para o governo brasileiro, e hoje está em uma organização internacional.
Fonte: http://www.otempo.com.br/capa/economia/n%C3%A3o-se-iluda-voc%C3%AA-est%C3%A1-sendo-espionado-a-cada-clique-online-1.1492113