O sofrimento é o grito do velho eu sendo expulso da casa que ele nunca construiu. É a resistência gritando ao ser desinstalada. O sofrimento só dói tanto porque está preso ao ego. O ser em paz sente até a dor... em liberdade. Dói, mas não aprisiona. O velho eu luta contra a dor. O novo mergulha nela até encontrar Deus. No centro da dor, há uma porta secreta. Cristo não fugiu da cruz. Ele a abraçou – para mostrar que a libertação passa por dentro da ferida. Não se vence a dor – se atravessa ela com consciência. O velho eu pergunta: ‘por que comigo?” O novo sussurra: “que queres me mostrar, Senhor?”

A dor deixa de ser punição. Torna-se ensinamento. O eu ilusório sangra. O velho eu quer anestesia. O novo quer significado. E quando há sentido, até a dor se torna sagrada. Porque na dor, os véus caem. A dor nos visita quando o ego se recusa a soltar. Mas é justamente ela que o obriga a soltar. Ela nos curva – até que possamos ajoelhar de verdade. O sofrimento é o útero onde o novo nascimento começa. Cristo chorou, suou sangue, gemeu na cruz... não para evitar nossa dor, mas para mostrar que até nela Deus está. O divino não foge da dor – Ele a redime. A dor não é o fim – ela é o desmonte. Depois dela, quem volta já não quer mais fingir. O sofrimento parte o coração – mas às vezes é preciso um coração partido para Deus entrar. Porque Ele nunca força. Ele espera a fenda.

Visto em: O INFORMANTE.