‹ voltar



A Paixão de Cristo (Revelação de Jesus Cristo a Catalina Rivas)

 

Revelações particulares feitas por Jesus Cristo à confidente colombiana Catalina Rivas, sobre os fatos de sua Paixão, Crucifixão e Morte na Cruz.

n/d

A Paixão de Cristo

 

JESUS

. . .Minha Filhinha, deixa-te abraçar por Meu mais ardente desejo de que todas as almas venham a purificar-se na água da penitência... Que sejam penetradas por sentimentos de confiança e não de temor, porque sou Deus de Misericórdia e sempre estou disposto a recebê-las em Meu Coração.

. . . Assim, dia após dia, iremos nos unindo em nosso segredo de amor. Uma pequena faísca e logo uma grande chama... Só o amor verdadeiro não é amado, hoje!... Faz amar ao amor! Mas, antes, ora, filhinha, reza muito pelas almas consagradas que perderam o entusiasmo e a alegria no serviço. Ora também por aqueles Sacerdotes que realizam o milagre dos milagres no altar e cuja fé é fraca.

. . . Perde-te em Mim como uma gota de água no oceano... Quando te criei, beijei tua fronte, assinalando-te com o sinal de Minha predileção... Busca almas, porque são poucas as que Me amam; busca almas e imprime em suas mentes a visão da dor na qual Me consumi. Os homens, sem o saber, estão prestes a receber grandes dons.

. . . Estou junto a ti, quando fazes o que te peço; é como se Me matasses a grande sede que Me secou até os lábios na Cruz.

. . . Eu Me farei presente cada vez que invocarem Minha Paixão com amor. Concederei que vivas unida a Mim na dor que experimentei quando, no Getsêmani, conheci os pecados de todos os homens.

. . . Fica consciente disso, porque chamo poucas criaturas para este tipo de paixão, mas nenhuma delas compreende que predileção lhes dei ao associá-las a Mim na hora mais dolorosa de Minha vida terrena.

 

JESUS SE PREPARA

. . .Há almas que meditam Minha Paixão, mas são muito poucas as que pensam na preparação de Minha vida pública: Minha solidão!

. . . Os quarenta dias que passei na encosta do monte, foram os dias mais angustiosos de Minha vida, porque os passei completamente só, preparando Meu Espírito para o que viria: sofri fome, sede, desânimo, amargura. Sabia que, para esse povo, Meu sacrifício seria inútil, pois que Me negaria. Nessa solidão, percebi que nem Minha nova doutrina, nem Meus sacrifícios e milagres, poderiam salvar o povo judeu, que se tornaria deicida.

. . . Ainda assim, deveria cumprir Meu dever, a missão divina. Deveria deixar Minha semente primeiro e morrer depois. Que triste é isto, sob a perspectiva humana!

. . . Eu também fui homem e senti dificuldades e angústias. Percebi que estava muito sozinho! Mortifiquei Meu corpo com o jejum e Meu Espírito com a oração. Pedi por toda essa humanidade que não Me conheceria, que Me sacrificaria tantas vezes...

. . . Fui tentado como qualquer outro mortal e Satanás nunca sentiu tanta curiosidade de saber quem era o homem que permanecia em tanta solidão e desamparo.

. . . Pensai em tudo que tive que padecer para salvar o homem, para poder reinar em seu coração, para tornar possível sua entrada no reino de Meu Pai.

 

A CEIA PASCAL

. . .Agora, vamos ao relato de Minha Paixão... Relato que dará glória ao Pai e santidade a outras almas eleitas...

. . . A noite antes de ser entregue foi plena de alegria pela Ceia Pascal, inauguração do eterno Banquete, no qual o ser humano deveria tomar assento para alimentar-se de Mim.

. . . Se Eu perguntasse aos cristãos, "o que pensam desta Ceia?", seguramente muitos diriam que é o lugar de suas delícias, mas poucos diriam que é a Minha delícia... Há almas que não comungam pelo deleite que experimentam, mas pelo deleite que Eu sinto. São poucas, pois as demais só vêm a Mim para pedir dons e favores.

. . . Eu abraço a todas as almas que vêm a Mim porque vim à terra para fazer crescer o amor nas almas que abraço. E como o amor não cresce sem dificuldades, assim Eu, pouco a pouco, vou retirando a doçura para deixar as almas em sua aridez; isto, para que jejuem de seu próprio deleite, para fazê-las compreender que devem ter sua atenção voltada para outro desejo: o Meu.

. . . Por que falais de aridez como se fosse um sinal de diminuição de Meu amor? Esquecei-vos de que, se não dou alegria, deveis provar vossa aridez e outras penas?

. . . Vinde a Mim, almas, mas não penseis senão que sou Eu quem de tudo dispõe e quem vos incita a buscar-Me. Se soubésseis quanto aprecio o amor desinteressado e como ele será reconhecido no céu! Quanto se rejubilará a alma que o possui!

. . . Aprendei de Mim, queridas almas, a amar unicamente para agradar a quem vos ama... Tereis doçuras e muito mais do que renunciais; tereis tanta alegria quanto Eu vos fiz capazes de ter. Sou Eu quem vos preparou o Banquete. Eu sou o alimento. Como então posso fazer-vos sentar à Minha mesa e deixar-vos em jejum? Eu vos prometi que quem se alimenta de Mim não terá jamais fome... Eu Me sirvo das coisas para vos revelar Meu amor. Segui os chamados que fazem Meus Sacerdotes, que aproveitam a ocasião desta festa pascal para conduzir-vos a Mim, mas não vos detenhais no humano, caso contrário fareis cessar o outro objetivo desta festa.

. . . Ninguém pode dizer que Minha Ceia se fez seu alimento quando experimenta apenas doçura... O amor cresce, para Mim, à medida em que cada um se abandona a si mesmo.

. . . Muitos Sacerdotes o são porque Eu quis fazê-los Meus Ministros, não porque Me sigam de verdade... Orai por eles! Deveis oferecer a Meu Pai a dor que senti quando, no Templo, lancei por terra os bancos dos mercadores e repreendi os Ministros de então por terem feito da casa de Deus uma reunião de usurários.

. . . Quando Me perguntaram com que autoridade Eu fazia isso, senti uma dor ainda maior ao comprovar que a pior negação de Minha Missão vinha justamente de Meus Ministros.

. . . Por isso, orai pelos Sacerdotes que cuidam de Meu corpo por costume e por isso mesmo com muito pouco amor...

. . . Logo sabereis que eu devia dizer-vos isto, porque vos amo e porque prometo, a quem orar por Meus Sacerdotes, a remissão de toda pena temporal devida. Não haverá purgatório para quem se aflige por causa dos Sacerdotes tíbios, mas o Paraíso imediato depois do último suspiro.

. . . E agora, voltai a deixar-vos abraçar por Mim, para receberdes a vida que vos dei a todos, com infinita alegria.

. . . Aquela noite, com infinito amor, lavei os pés de Meus Apóstolos, porque era o momento culminante de apresentar a Minha Igreja ao mundo. Queria que Minhas almas soubessem que, mesmo quando estão carregadas dos maiores pecados, não são excluídas das graças. Que estão ao lado de Minhas almas mais fiéis; estão em Meu coração, recebendo as graças de que necessitam.

. . . Que angústia senti naquele momento, sabendo que em Meu Apóstolo Judas estavam representadas tantas almas que, reunidas a Meus pés e lavadas muitas vezes com Meu Sangue, haviam de perder-se! Naquele momento, quis ensinar aos pecadores que não é por estarem em pecado que devem se afastar de Mim, pensando que nunca serão amados como antes de pecar. Pobres almas! Não são estes os sentimentos de um Deus que derramou todo Seu Sangue por vós. Vinde todos a Mim e não temais, porque vos amo. Lavar-vos-ei com Meu Sangue e ficareis tão brancos como a neve; afogarei vossos pecados na água de Minha Misericórdia e nada será capaz de arrancar de Meu coração o amor que vos tenho.

. . . Minha amada, Eu não te elegi em vão: responde com generosidade à Minha eleição; sê fiel e firme na fé. Sê mansa e humilde para que outros saibam quão grande é Minha humildade.

 

JESUS ORA NO HORTO

. . .Ninguém crê realmente que suei sangue naquela noite no Getsêmani, e poucos creem que sofri muito mais nessas horas do que na crucifixão. Foi mais doloroso porque Me foi manifestado claramente que os pecados de todos eram tornados Meus e Eu devia responder por cada um. Assim, Eu, inocente, respondi ao Pai como se fosse verdadeiramente culpado de iniquidade. Eu, puro, respondi ao Pai como se estivesse manchado de todas as impurezas que vós, Meus irmãos, tendes praticado, desonrando a Deus, que vos criou para que sejais instrumentos da grandeza da criação e não para desviar a natureza que vos foi concedida, com o fim de levá-la gradualmente a manter a visão da pureza em Mim, vosso Criador.

. . . Portanto, fui feito ladrão, assassino, adúltero, mentiroso, sacrílego, blasfemo, caluniador e rebelde ao Pai, a quem sempre amei.

. . . Nisto, precisamente, consistiu Meu suor de sangue: no contraste entre Meu amor pelo Pai e Sua Vontade. Mas obedeci até o fim e, por amor a todos, cobri-Me de mácula para fazer a Vontade de Meu Pai e salvar-vos da perdição eterna.

. . . Considera quantas agonias mais que mortais tive aquela noite e, crê-Me, ninguém podia Me aliviar em tais angústias, porque via muito bem como cada um de vós se dedicou a fazer cruel para Mim a morte que Me dava a cada instante, pelas ofensas cujo resgate paguei por inteiro. Quero que se conheça mais uma vez como amei a todos os homens naquela hora de abandono e de tristeza sem nome...

 

JESUS INSTITUI A EUCARISTIA

. . .O desejo de que as almas estejam limpas quando Me recebem no Sacramento do amor, levou-Me a lavar os pés de Meus Apóstolos. Eu o fiz também para representar o Sacramento da Penitência, no qual as almas que tiveram a desgraça de cair no pecado podem lavar-se e recobrar a alvura perdida.

. . . Aos lavar-lhes os pés, quis ensinar às almas que tenham trabalhos apostólicos, a humilhar-se e a tratar com doçura aos pecadores e a todas as almas que lhes estão confiadas.

. . . Cingi-Me com um pano para ensiná-los que, para obter êxito com as almas, é preciso cingir-se com a mortificação e a abnegação. Desejei que aprendam a caridade mútua e como devem lavar os erros que observam no próximo, dissimulando-os e perdoando-os sempre, sem divulgar jamais os defeitos alheios. A água que derramei sobre os pés de Meus Apóstolos era reflexo do zelo que consumia Meu Coração em desejos de salvação dos homens.

. . . Naquele momento era infinito o amor que sentia pelos homens e não quis deixá-los órfãos... Para viver convosco até a consumação dos séculos e demonstrar-vos Meu amor, quis ser vosso alento, vossa vida, vosso sustento, vosso tudo! Então vi todas as almas que, no transcurso dos séculos, haveriam de alimentar-se de Meu Corpo e de Meu Sangue e todos os efeitos divinos que este alimento produziria em muitíssimas almas...

. . . Em muitas almas, esse Sangue Imaculado engendraria a pureza e a virgindade. Em outras, acenderia a chama do amor e o zelo. Muitos mártires de amor se agrupavam naquela hora diante de Meus olhos e em Meu Coração! Quantas outras almas, depois de haver cometido muitos e graves pecados, debilitadas pela força das paixões, viriam a Mim para renovar seu vigor com o Pão dos fortes!

. . . Como quisera fazer conhecer os sentimentos de Meu Coração a todas as almas. Quanto desejo de que saibam o amor que sentia por elas quando, no Cenáculo, instituí a Eucaristia. Ninguém poderia penetrar os sentimentos de Meu Coração naqueles momentos. Sentimentos de amor, de alegria, de ternura... Mas, imensa foi também a amargura que invadiu Meu Coração.

. . . És por acaso um bom terreno para a construção de um magnífico edifício? Sim e não... Sim, pelos dons que te tenho concedido desde teu nascimento. Não, pelo uso que fizeste deles. Pensas que teu terreno é adequado em proporção à estrutura do edifício que Eu levanto? Ah, és mesquinho! Então Meus cálculos, apesar de todos os elementos contrários que existem em ti, não falharão, porque é Minha arte escolher o que é pobre para o intento a que Me proponho. Eu jamais Me engano porque uso arte e amor. Construo ativamente sem que tu percebas. Teu próprio desejo de saber o que estou fazendo Me serve para provar-te que nada podes e nada sabes sem que Eu o queira...

. . . É tempo de trabalhar, não Me peças nada porque há alguém que pensa em ti.

. . . Quero dizer a Minhas almas a amargura, a tremenda dor que enchia Meu Coração nessa noite. Se grande era Minha alegria de fazer-Me companheiro dos homens até o fim dos séculos e Alimento divino das almas, e via quantas Me renderiam homenagem de adoração, de amor, de reparação, não foi pouca a tristeza que Me causou o contemplar todas aquelas almas que haveriam de abandonar-Me no Sacrário e quantas duvidariam de Minha presença na Eucaristia.

. . . Em quantos corações manchados, sujos e completamente destroçados pelo pecado Eu teria que entrar, e como Minha Carne e Meu Sangue, profanados, converter-se-iam em motivo de condenação para muitas almas! Tu não podes compreender o modo pelo qual contemplei todos os sacrilégios, ultrajes e tremendas abominações que se cometeriam contra Mim... As muitíssimas horas que iria passar sozinho nos Sacrários. Quantas longas noites! Quantos homens desprezariam os amorosos chamados que lhes dirigiria!

. . . Por amor às almas, permaneço prisioneiro na Eucaristia, para que em suas dores e pesares vão consolar-se com o mais terno dos corações, com o melhor dos pais, com o mais fiel amigo. Mas esse amor, que se consome pelo bem dos homens, não será correspondido.

. . . Moro em meio aos pecadores para ser sua salvação e sua vida, seu médico e seu remédio; e eles, em troca, em que pese a sua natureza enferma, afastam-se de Mim, ultrajam-Me e Me desprezam.

. . . Filhos Meus, pobres pecadores! Não vos afasteis de Mim, espero-vos dia e noite no Sacrário. Não repreenderei vossos crimes. Não jogarei em vosso rosto os vossos pecados. O que farei será lavar-vos com o Sangue de Minhas chagas. Não temais, vinde a Mim. Não sabeis quanto vos amo!

. . . E vós, almas queridas, por que estais frias e indiferentes ao Meu amor? Sei que precisais atender às necessidades de vossas famílias, de vossas casas e do mundo que vos chama sem cessar. Mas não tereis um momento para virdes dar-Me prova de vosso amor e gratidão? Não vos deixeis levar por tantas preocupações inúteis e reservai um momento para vir visitar o Prisioneiro do amor. Se vosso corpo está enfermo, não podeis encontrar uns minutos para chamar o médico que deve curá-los? Vinde a quem pode devolver-vos as forças e a saúde da alma... Dai uma esmola de amor a este Mendigo divino que vos chama, que vos deseja e vos espera.

. . . Estas palavras produzirão nas almas o efeito de uma grande realidade. Penetrarão nas famílias, nas escolas, nas casas religiosas, nos hospitais, nas prisões, e muitas almas se renderão ao Meu amor. As maiores dores Me vêm das almas sacerdotais e religiosas.

. . . No momento de instituir a Eucaristia, vi todas as almas privilegiadas que se alimentariam com Meu Corpo e Meu Sangue, e os efeitos produzidos nelas.

. . . Para algumas, Meu Corpo seria remédio para sua debilidade; para outras, fogo que chegaria a consumir suas misérias, inflamando-as com amor. Ah!... Essas almas reunidas diante de Mim, serão um imenso jardim no qual cada planta produz uma flor diferente, mas todas me dão prazer com seu perfume... Meu Corpo será o sol que as reanima. Aproximar-Me-ei de umas para consolar-Me, de outras para ocultar-Me, em outras descansarei. Se soubésseis, almas amadíssimas, como é fácil consolar, ocultar e descansar todo um Deus!

. . . Este Deus que vos ama com amor infinito, depois de livrá-los da escravidão do pecado, semeou em vós a graça incomparável da vocação religiosa, trouxe-vos de modo misterioso ao jardim de vossas delícias. Este Deus, Redentor vosso, fez-Se vosso Esposo. Ele mesmo vos alimenta com Seu Corpo puríssimo e com Seu Sangue sacia vossa sede. Em Mim encontrareis o descanso e a felicidade.

. . . Ai, filhinha! Por que tantas almas, depois de tê-las cumulado de bens e carícias, hão de ser motivo de tristeza para Meu Coração? Não sou sempre o mesmo? Acaso mudei para vós?... Não! Eu não mudarei jamais e, até o fim dos séculos, amar-vos-ei com predileção e com ternura.

. . . Sei que estais cheios de misérias, mas isto não Me fará afastar de vós Meus olhares mais ternos e com ânsia vos estou esperando, não somente para aliviar vossas misérias, como também para cumular-vos de Meus benefícios.

. . . Se vos peço amor, não Mo negueis; é muito fácil amar Aquele que é o próprio Amor. Se vos peço algo custoso a vossa natureza, dou-vos juntamente a graça e a força necessária para que sejais Meu consolo. Deixai-Me entrar em vossas almas e, se não encontrais nelas nada que seja digno de Mim, dizei-Me com humildade e confiança: "Senhor, bem vês os frutos que produz esta árvore; vem e diz-me que devo fazer para que, a partir de hoje, brotem os frutos que Tu desejas".

. . . Se a alma Me diz isto com verdadeiro desejo de Me provar seu amor, responder-lhe-ei: Alma querida, deixa que Eu mesmo cultive teu amor...

. . . Sabes os frutos que obterás? A vitória sobre teu caráter reparará ofensas, expiará faltas. Se não te perturbares ao receber uma correção e a aceitares com alegria, conseguirás que as almas cegas pelo orgulho se humilhem e peçam perdão.

. . . Isto é o que farei em tua alma se Me deixares trabalhar livremente. Não florescerá logo o jardim, mas darás grande consolo a Meu Coração...

. . . Tudo isto Me passou diante dos olhos quando instituí a Eucaristia e me acendi no anseio de alimentar as almas. Não ficaria na terra para viver com os seres perfeitos mas para sustentar os fracos e alimentar os pequenos... Eu os faria crescer e robusteceria suas almas, descansaria em suas misérias e seus bons desejos Me consolariam.

. . . Mas, entre Meus eleitos há algumas almas que Me causam pena. Perseverarão todas?... Este é o grito de dor que escapa de Meu Coração; este é o gemido que quero que ouçam as almas.

. . . O Amor eterno está buscando almas que digam coisas novas sobre as antigas verdades já conhecidas. O Amor infinito quer criar, no seio da humanidade, um tribunal, não de Justiça, mas de pura Misericórdia. Por isso se multiplicam as mensagens no mundo. Quem as compreende admira suas obras, aproveita-se delas e faz com que os demais também se aproveitem. Aquele que não entende, continua sendo escravo do espírito que morre e condena.

. . . A estes últimos dirijo Minha Palavra de condenação, porque turvam a Obra Divina e se convertem em cúmplices do maligno.

. . . Que astúcia produz pressão em suas mentes pequenas quando condenam, encobrem, reprimem o que procede, não de míseras criaturas, mas do Criador? Aos que tenho chamado pequenos, revelo Minha sabedoria que, em troca, oculto aos soberbos...

. . . Alma, deixa que Me derrame em ti; sê como válvula de Meu Coração, porque não falta quem comprima Meu Amor...

 

JESUS FAZ A VONTADE DO PAI

. . .De Minha Paixão quero que consideres, sobretudo, a amargura que me causou conhecer os pecados que, obscurecendo a mente do homem, levam-no às aberrações. Estes pecados são vistos, na maioria das vezes, como fruto de uma conveniência natural à qual, diz-se, não se pode opor a vontade própria. Hoje, muitos vivem com pecados graves culpando os outros ou o destino, sem possibilidade de sair deles. Isto vi no Getsêmani e conheci o grande mal que absorveria Minha Alma. Quantos se perdem assim e como sofri por eles!

. . . Assim ensinei a Meus Apóstolos, com Meu exemplo, a suportarem-se mutuamente, lavando-lhes os pés e fazendo-Me seu Alimento. Aproximava-se a hora para a qual o Filho de Deus se havia feito homem e Redentor do gênero humano; ia derramar Seu Sangue e dar Sua vida pelo mundo. Nessa hora, quis colocar-Me em oração e entregar-Me à Vontade de Meu Pai... Foi então que Minha Vontade como homem venceu a resistência natural ao grande sofrimento preparado para Mim por Nosso Pai, talvez mais angustiado que Eu mesmo. Então entreguei, entre aquelas almas perdidas, Minha própria Alma para reparar o que já estava corrompido. Minha Onipotência pode tudo, mas quer do outro um mínimo sobre o que acrescentar; e este mínimo Eu mesmo ofereço e com infinito amor.

Minha Paixão... Que abismo de amargura encerrou em si!

. . . Quão equivocado está aquele que crê conhecê-la, somente porque pensa nos terríveis sofrimentos de Meu Corpo!...

. . . Minha filha, reservei para ti outros quadros das tragédias íntimas que vivi e desejo compartilhar contigo, porque és daqueles que o Pai Me concedeu no Horto.

. . . Almas queridas! Aprendei de vosso Modelo que a única coisa necessária, ainda que a natureza se rebele, é submeter-se com humildade e entregar-se para cumprir a Vontade de Deus.

. . . Também quis ensinar às almas que toda ação importante deve ser preparada e vivificada pela oração, porque nela se fortifica a alma para o mais difícil, e Deus Se comunica com ela e a aconselha e inspira, mesmo quando a alma não o sente.

. . . Retirei-Me ao Horto com três de Meus Discípulos, para ensinar-lhes que as três potências da alma devem acompanhá-los e ajudá-los na oração.

. . . Recordai, com a memória, os benefícios divinos, as perfeições de Deus: Sua Bondade, Seu Poder, Sua Misericórdia, o Amor que vos tem. Procurai depois, com o entendimento, como poderão corresponder às maravilhas que tem feito por vós... Deixai que se mova vossa vontade a fazer por Deus o mais e o melhor, a consagrar-vos à salvação das almas, seja por meio de vossos trabalhos apostólicos, seja por vossa vida humilde e oculta, em vosso retiro e silêncio por meio da oração.

. . . Prostrai-vos humildemente como criaturas na presença de vosso Criador e adorai Seus desígnios sobre vós, sejam quais forem, submetendo vossa vontade à Divina.

. . . Assim Eu Me ofereci para realizar a obra da Redenção do mundo. Ah! Que momento aquele no qual senti vir sobre Mim todos os tormentos que haveria de sofrer em Minha Paixão: as calúnias, os insultos, os açoites, os chutes, a coroa de espinhos, a sede, a Cruz...

. . . Tudo aquilo passou diante de Meus Olhos ao mesmo tempo em que uma dor intensa perturbava Meu Coração; as ofensas, os pecados e as abominações que se cometeriam no transcurso dos séculos. E não somente os vi, como Me senti revestido de todos esses horrores e assim Me apresentei a Meu Pai Celestial para implorar Misericórdia.

. . . Minha filhinha, Eu Me ofereci como um lírio para acalmar Sua cólera e aplacar Sua ira. No entanto, com tantos crimes e tantos pecados, Minha natureza humana experimentou uma agonia mortal, a ponto de suar sangue.

. . . Será possível que esta angústia e este Sangue sejam inúteis para tantas almas?... Minha Paixão originou-se de Meu Amor. Se Eu não quisesse, quem teria podido tocar-Me? Eu o quis e, para fazer isto, servi-Me dos mais cruéis entre os homens.

. . . Antes de sofrer, conhecia em Mim mesmo todo o sofrimento e podia avaliá-lo inteiramente. Em troca, quando quis padecer, além do pleno conhecimento e avaliação, tive a sensação humana de todos os sofrimentos; Eu os tomei todos.

. . . Falando de Minha Paixão, não posso pormenorizar tanto. Outras vezes o fiz e vós não podeis compreender, pois vossa natureza humana não conseguiria compreender a desmesurada extensão das dores que sofri.

. . . Sim, Eu vos ilumino, mas paro em um limite, mais além do que não podem avançar. Somente a Minha Mãe fiz conhecer todas as Minhas coisas; por isso Ela as sofreu mais do que todos.

. . . Mas hoje o mundo deverá conhecer mais do que até agora lhe tenho concedido, porque Meu Pai assim o deseja. Por isso, em Minha Igreja floresce um raio de amor para todo o conjunto de vicissitudes que, desde o Horto, levaram-Me ao Calvário. Mais que a outros, manifesto Minha Paixão aos amados que tive no Horto. Eles podem dizer algo que se adapte à mente dos caminhantes de hoje. E, se podem, devem fazê-lo. Por isso, escreve tudo o que te digo, pequena, para ti e para muitos outros, para alívio das almas e para glória da Trindade, que quer que se saibam os Meus sofrimentos no Getsêmani.

. . . Minha alma está triste até a morte. Enquanto a tristeza do mal físico poderia chegar a ser causa de morte, a do espírito, que quis experimentar, consistiu na ausência completa do influxo da Divindade e na presença dilacerante das causas de Minha Paixão.

. . . Em Meu Espírito, que agonizava, estavam realmente presentes todos os motivos que Me impulsionaram a trazer-vos o amor à terra. Primeiro, as ofensas feitas contra Minha Divindade sofredora de homem, com o conhecimento próprio de Deus. Não podes encontrar semelhança a este gênero de sofrimento, porque o homem que peca compreende, com Minha luz, a parte que lhe cabe e, muitas vezes, imperfeitamente, não vê como é o pecado diante de Mim. Por isso, é claro que somente Deus pode conhecer o que é uma ofensa feita a Ele.

. . . No entanto, a Humanidade deveria poder oferecer à Divindade um pleno conhecimento e a verdadeira dor e arrependimento; e posso fazê-lo todas as vezes que quiser, oferecendo precisamente o Meu conhecimento que operou em Mim, Homem, com a humanização das ofensas contra Deus.

. . .Este foi o Meu desejo: que o pecador arrependido, por Meu intermédio, tivesse como apresentar a seu Deus o conhecimento da ofensa cometida e que Eu, em Minha Divindade, pudesse acolher do homem também a compreensão plena do que fez contra Mim.

. . . Basta por hoje. Não sabes o quanto Me consolas quando te entregas a Mim com inteiro abandono... Não é todos os dias que posso falar às almas... Deixa que, para elas, Eu conte a ti Meus segredos!... Deixa-Me aproveitar teus dias e tuas noites!

. . .Estava triste até à morte, porque via de todo lado o enorme volume das ofensas cometidas e, se por uma pessoa experimentava uma morte sem comparação, que terei experimentado pelo conjunto de todas as culpas? "Minha alma está triste até à morte"... de uma tristeza que Me produziu o abandono de toda força; de uma tristeza que tinha por centro a divindade em direção à qual — em Mim — convergia o fluxo de todas as culpas e o mau cheiro das almas corrompidas por todo tipo de vícios. Por isso, ao mesmo tempo era alvo e flecha. Como Deus, alvo; como homem, flecha. Pois havia absorvido todo o pecado a ponto de aparecer, diante de Meu Pai, como o único ofensor. Maior tristeza que esta não podia haver e Eu a quis recolhê-la toda, por amor ao Pai, por Misericórdia a todos vós.

. . . Em vão passam os olhos do homem sobre o significado destas palavras, que abarcam todo o Meu ser de Deus e de Homem, se não se fixa neste ponto. Olhai-Me, assim, nessa gigantesca prisão do espírito. Não mereço amor, se tanto lutei e sofri? Não mereço que a criatura se valha de Mim como de coisa própria, sabendo que Me dou a ela inteiramente, sem nenhuma reserva? Tomai todos de Minha fonte inesgotável de bem! Tomai! Eu vos ofereço Minha tristeza no Horto; dai-me a vossa tristeza, todas as vossas tristezas: quero fazer delas um buquê de violetas, cujo perfume seja constante na direção de Minha Divindade.

. . . "Pai, se é possível afasta de Mim este Cálice. Mas não se faça Minha Vontade e sim a Tua". Disse assim no cúmulo da amargura, quando o peso que caía sobre Mim era tão sangrento que Minha alma se encontrava na mais inverossímil escuridão. Disse-o ao Pai porque, ao assumir toda culpa, apresentava-Me diante dEle como o único pecador, contra o qual se descarregava toda a Sua Divina Justiça. E, sentindo-Me privado de Minha Divindade, somente a humanidade aparecia diante de Mim.

. . . Afasta, ó Pai, este amarguíssimo Cálice que Me apresentas e que, ao vir a este mundo, no entanto, aceitei por Teu amor. Cheguei a um ponto em que não reconheço nem a Mim mesmo. Tu, ó Pai, fizeste do pecado uma como herança Minha e isto torna insuportável Minha presença diante de Ti, que Me amas. A ingratidão dos seres humanos já Me é conhecida, mas como suportarei ver-Me sozinho? Deus Meu, tem piedade da grande solidão em que Me encontro! Porque até Tu desejas deixar-Me tão abandonado? Que ajuda encontrarei então em tanta desolação? Por que também Tu Me atinges assim? Sim, privas-Me de Ti, sinto que baixo a um abismo tal que não consigo reconhecer Tua mão em uma situação tão trágica. O sangue que sai de todo o Meu Corpo Te dá testemunho de Meu aniquilamento debaixo de Tua poderosa mão...

. . . Assim chorei; assim Me rebaixei. Mas logo prossegui: É justo, Pai Santo, que Tu faças de Mim tudo o que quiseres. Minha vida não é Minha, pertence-Te toda. Quero que não se faça Minha vontade mas a Tua. Aceitei uma morte de Cruz; aceito também a morte aparente de Minha Divindade.

. . .É justo. Tudo isto devo Te dar e, antes de tudo, devo oferecer-Te o holocausto da Divindade que, no entanto, une-Me a Ti. Sim, Pai, confirmo, com o Sangue que vês, Minha doação; confirmo, com o Sangue, Minha aceitação: faça-se Tua vontade, não a Minha...

 

JESUS BUSCA SEUS DISCÍPULOS, QUE DORMEM

. . .Com tudo, o enorme peso e o cansaço atroz, unidos ao suor de Sangue, haviam-Me atingido de tal modo que, ao procurar Meus Apóstolos, Eu Me senti tremendamente fatigado.

. . . Pedro, João, Tiago! Onde estais, que não vos vejo alertas? Despertai, vede Meu rosto, vede como treme Meu corpo nesta perturbação que experimento! Por que dormis? Despertai e orai Comigo, porque suei Sangue por vós!

. . . Pedro, discípulo eleito, não te importa Minha Paixão?... Tiago, a ti te dei tanta preferência: olha para Mim e lembra-te de Mim! E tu, João, porque te deixas cair no sono com os outros? Tu podes agüentar mais que eles... Não durmas, vela e ora Comigo!

. . . Eis aqui o que consegui: buscando consolo, encontrei amargo desconsolo. Nem sequer eles estão Comigo. Aonde mais irei?... É verdade, Meu Pai Me dá somente o que Eu soube pedir-Lhe, a fim de que o Juízo de toda a humanidade caísse sobre Mim. Meu Pai, ajuda-Me! Tu podes tudo, ajuda-Me!

. . . Voltei a orar como um homem para quem se acabaram todas as esperanças e que busca do alto compreensão e consolo. Mas, que podia fazer Meu Pai se Eu havia escolhido livremente pagar por tudo? Minha escolha não havia mudado. No entanto, a resistência natural havia chegado a um grau tão excessivo, que Minha humanidade estava esmagada. Novamente, caí com o rosto em terra pela vergonha de todos os vossos pecados; de novo pedi a Meu Pai que afastasse de Mim aquele Cálice. Mas Ele Me respondeu que, se Eu não o bebesse, seria como se não tivesse vindo ao mundo; e que Me consolasse, porque muitas criaturas participariam de Minhas agonias no horto.

. . . Respondi: Pai, não se faça Minha vontade mas a Tua. Este Anjo Me assegurou Teu amor e a breve alegria que Me enviaste fez boa obra até em Minha resistência natural. Dá-Me Minhas criaturas, as que redimi. Toma-as Tu mesmo, porque por Ti Eu aceito isto. Quero ver-Te contente, ofereço-Te todos os Meus sofrimentos e Minha imutável vontade que, na verdade, não está em desacordo com a Tua, porque sempre fomos uma só coisa... Pai, estou destroçado, mas assim Nosso amor será conhecido. Faça-se a Tua Vontade, não a Minha!

. . . Voltei a despertar os Discípulos, mas os raios da Divina Justiça haviam deixado em Mim sulcos indeléveis... Encheram-se de espanto ao ver-Me fora do normal e quem mais sofreu foi João. Eu, mudo... eles, aturdidos... Somente Pedro teve coragem de falar. Pobre Pedro, se soubesse que uma parte de Minha agitação havia sido desencadeada por ele!...

. . . Eu havia levado Meus três amigos para que Me ajudassem, compartilhando de Minha angústia. Para que fizessem oração Comigo. Para descansar neles, em seu amor... Como descrever o que senti quando os vi adormecidos?

. . . Ainda hoje, o quanto sofre Meu Coração; e, querendo encontrar alívio em Minhas almas, vou a elas e as encontro adormecidas. Mais de uma vez, quando quis despertá-las e tirá-las de si mesmas, de suas preocupações, respondem-Me —se não com palavras, com obras: "agora não posso, estou muito cansada, tenho muito o que fazer, isto me prejudica a saúde, preciso de um tempo, quero um pouco de paz."

. . . Insisto e digo suavemente a essa alma: Não temas; se deixas esse descanso por Mim, Eu te recompensarei. Vem orar Comigo, apenas uma hora! Olha que preciso de ti neste momento! Se te detiveres, ficará tarde para ti? Quantas vezes ouço a mesma resposta!

. . . Pobre alma, não pôde velar uma hora Comigo. Dentro em pouco, virei e não Me ouvirás, porque estarás dormindo... Quisera dar-te a Graça mas, como dormes, não poderás recebê-la e, quem te assegura que terás força para despertar depois?... É bem possível que, privada de alimento, debilite-se tua alma e não possas sair dessa letargia.

. . . A muitas almas a morte surpreendeu durante um profundo sono e, onde e como despertaram?

. . . Almas queridas, desejo ensinar-vos também o quão inútil e vão é querer buscar alívio nas criaturas. Quantas vezes estão adormecidas e, em lugar de encontrar o alívio que vou buscar nelas, encontro amargura, porque não correspondem a Nossos desejos nem a Nosso amor.

. . . Quando orei a Meu Pai e pedi ajuda, Minha alma triste e desamparada padecia angústias de morte. Senti-Me angustiado com o peso das mais negras ingratidões.

. . . O Sangue que brotava de todos os poros de Meu Corpo, e que dentro em pouco sairia de todos os Meus ferimentos, seria inútil para o grande número de almas que se perderiam. Muitíssimas Me ofenderiam e muitas não Me conheceriam! Depois derramaria Meu Sangue por todos e Meus méritos seriam aplicados a cada um deles. Sangue Divino! Méritos infinitos!... E, ainda assim, inúteis para tantas e tantas almas...

. . . Mas então já ia ao encontro de outras coisas e Minha vontade estava inclinada ao cumprimento de Minha Paixão.

. . . Homens: se Eu sofri, não foi certamente sem fruto e tampouco sem motivo. O fruto que obtive foi a Glória e o Amor. Cabe agora a vós, com Minha ajuda, demonstrar-Me que apreciais Minha obra.

. . . Jamais Me canso! Vinde a Mim! Vinde a Quem vibra de amor por vós e que somente sabe vos dar o verdadeiro amor, que reina no céu e que vos transforma já na terra.

. . . Almas que provais de Minha sede: bebei em Meu Cálice amargo e glorioso, porque vos digo que algumas gotas deste Cálice o Pai quer reservar justamente para vós. Pensai que estas poucas gotas Me foram tiradas e portanto, se credes, dizei-Me que não as quereis. Eu não pus limites e nem vós deveis pôr. Eu fui abatido sem piedade; vós deveis, por amor, deixar que Eu abata vosso amor-próprio.

. . . Sou Eu Quem obra em vós, assim como Meu Pai obrou em Mim, no Getsêmani.

. . . Eu sou Aquele que faço sofrer para que um dia tenhais que alegrar-vos. Sede dóceis por um tempo; sede dóceis à Minha imitação, porque isto vos ajuda muito e Me compraz muito. Não perdereis nada; ao contrário: obterão o amor. Como poderia, com efeito, permitir que Meus amados sofram perdas reais, enquanto pretendem demonstrar-Me amor?

. . . Eu vos aguardo. Estou sempre à espera; não Me cansarei. Vinde a Mim; vinde assim como sois. Isso não tem importância, contanto que venhais. Então vereis que adornarei vossa fronte com aquelas gotas de Sangue que derramei no Getsêmani, porque essas gotas são vossas, se as quiserdes. Vem, Alma, vem a Jesus que te chama.

. . . Eu disse: Meu Pai. Não disse: Meu Deus; é que quero ensinar-vos que, quando vosso coração sofrer mais, deveis dizer: "meu Pai", e pedir-Lhe alívio. Exponde-Lhe vossos sofrimentos, vossos temores e, com gemidos, recordai-Lhe que sois Seus filhos. Dizei-Lhe que vossa alma não pode mais! Pedi com confiança de filhos e esperai, que vosso Pai vos aliviará e vos dará a força necessária para passar essa tribulação vossa e das almas que vos estão confiadas.

. . . Este é o Cálice que aceitei e apurei até à última gota. Tudo para ensinar-vos, filhos queridos, a não voltar a crer que os sofrimentos são inúteis. Se não tiverdes sucesso sempre, submetei vosso juízo e deixai que a Vontade Divina se cumpra em vós.

. . . Eu não voltei atrás. Ao contrário, sabendo que era no Horto onde iriam Me prender, permaneci ali, não quis fugir de Meus inimigos...

. . . Minha filha, deixa que Meu Sangue regue e fortaleça esta noite a raiz de tua pequenez.

 

JESUS É ENTREGUE POR JUDAS

. . .Depois de ter sido consolado pelo enviado de Meu Pai, vi que Judas se aproximava de Mim, seguido de todos os que haveriam de prender-Me. Levavam cordas, pedras, paus... Adiantei-Me e lhes disse: A quem buscais? Então Judas, com a mão em Meu ombro, beijou-Me...

. . .Quantas almas Me venderam e Me venderão pelo vil preço de um deleite, de um prazer momentâneo e passageiro... Pobres almas que buscam a Jesus como os soldados.

. . . Almas a quem amo; vós que vindes a Mim, que Me recebeis em vosso peito, que Me direis muitas vezes que Me amais... Não Me entregareis quando sairdes depois de Me receber? Nos lugares que freqüentais, há pedras que Me ferem: são conversas que Me ofendem e vós, que Me recebestes hoje, perdeis ali a alvura preciosa da Graça.

. . . Por que Me entregais assim, almas que Me conheceis e que em mais de uma ocasião vos gloriais de ser piedosas e exercer a caridade? Coisas que na verdade poderiam fazer-vos obter grandes méritos, mas... Que são para vós senão um véu que cobre vosso delito de entesourar bens na terra?

. . . Vigiai e orai! Lutai sem descansar e não deixeis que vossas más inclinações e defeitos cheguem a ser habituais...

. . . Vede, é preciso ceifar a erva todos os anos e talvez nas quatro estações; a terra tem que ser lavrada e limpa, é preciso melhorá-la e cuidar de arrancar as ervas daninhas que nela brotam.

. . . A alma também precisa ser cuidada com muito esmero e as tendências distorcidas precisam ser endireitadas.

. . .Não penseis que a alma que Me vende e que se entregou ao pecado grave começou por uma falta grave. Geralmente, as grandes quedas começam por pouca coisa: uma vontade, uma fraqueza, um consentimento ilícito, um prazer não proibido mas pouco conveniente... Assim, a alma vai ficando cega, diminui a graça, robustece-se a paixão e, por fim, vence.

. . . Entendei isto: Se é triste receber uma ofensa e uma ingratidão de qualquer alma, é muito mais triste quando vem de Minhas almas escolhidas e mais amadas. No entanto, outras podem reparar e consolar-Me.

. . . Almas que escolhi para fazer de vós o lugar de Meu descanso, o jardim de Minhas delícias, espero de vós muito maior ternura, muito mais delicadeza, muito mais amor.

. . . De vós espero que sejais o bálsamo que cicatriza Minhas feridas, que limpeis Meu rosto desfigurado e sujo... Que Me ajudeis a dar luz a tantas almas cegas que na escuridão da noite Me prendem e Me atam para Me dar a morte.

. . . Não Me deixeis sozinho... Despertai e vinde, porque já chegam Meus inimigos!

. . .Quando se aproximaram os soldados, disse-lhes: Eu sou! Esta mesma palavra repito agora à alma que está próxima a ceder à tentação: "Eu sou", ainda é tempo e, se quiseres, perdoar-te-ei; e em vez de Me prenderes com as cordas do pecado, Eu é que te prenderei com os laços do amor.

. . . Vem, Eu sou Aquele que te ama e Aquele que tem tanta compaixão de tua debilidade, Aquele que está te esperando com ansiedade para receber-te em Seus braços.

. . . O episódio de Minha captura, bem examinado, tem muita importância. Se Pedro não desse esse golpe em Malco, Eu não teria tido ocasião de chamar vossa atenção sobre o método que desejo que usem ao combater por Mim.

. . .Servi-Me então de um provérbio para admoestar a Pedro e restituí a Malco sua orelha, porque não Me agrada a violência, sendo Eu o Senhor da liberdade. Mas notem que, além de fazer isto, expressei a Pedro o firme desejo de que se cumprisse Minha Paixão e o fiz refletir que, se desejasse, o Pai poderia Me defender através de Meus anjos.

. . . Vede quantas coisas em um só episódio? Mas, o principal, é justamente a lição que dei a todos vós no combate contra vossos inimigos. Quem se assemelha a Mim age assim: deixa-se conduzir para onde querem os que o rodeiam, porque força a terá nos momentos em que não são os esperados pelo mundo (pelo homem), pela experiência humana, pela astúcia do amor-próprio.

. . . Não, quem é semelhante a Mim encontrará, receberá forças desconhecidas mas vigorosas para dominar os seus dominadores, permanecendo no lugar em que for colocado. Meu verdadeiro discípulo faz as coisas mais inverossímeis, sem interromper ao mínimo o Meu desígnio para com ele. O mundo se compraz em singularidades, em sobressair e demonstrar a própria superioridade. Este é o espírito que combati e venci. Por isso vos disse que tenhais ânimo, porque tendo Eu vencido, esse mundo não pode fazer nada que corte sua união Comigo, desde que vós não vos unais a ele, porque então teríeis que sofrer as conseqüências, com o agravante de que, como Eu Me oponho a vossa vitória com as armas do mundo, muitas vezes tereis como contrários o mundo e a Mim: o mundo, por seu amor-próprio; e a Mim, por vosso puro amor, por amor a vosso verdadeiro bem.

. . .Portanto, não aos golpes de Pedro às orelhas de vossos inimigos, sem plena aceitação do cálice que vos ofereço, nos quais deveis ver Minha vontade, como Eu vi a de Meu Pai quando disse ao amado Pedro: Não queres que Eu beba do cálice que Me dá Meu Pai?

. . . Meditai sempre sobre Minha Paixão, mas penetrai no íntimo de Meu Espírito e obtende as impressões que são saudáveis e que vos incitam a imitar-Me. Naturalmente, sou Eu quem obra em vós estas coisas, mas vós deveis colocar vosso empenho e assim tereis o que digo.

. . . Ah! Se o homem compreendesse este ato notável de Minha Paixão! Como seria mais fácil ceder e reviver Minha Vida!

. . . Animai-vos, filhinhos Meus, tudo é questão de amor, não de outra coisa. Do amor e da Minha obra, que quero levar a cabo em vós; e de amar-Me sempre mais. Deixai de raciocinar da maneira humana; abri a mente ao Meu mundo, àquilo que tenho convosco. Isto é importante!

. . .Vós sois Meus por três motivos: porque vos criei do nada, porque vos redimi e porque recebereis parte de Minha Coroa de Glória. Por isso deveis pensar que Eu cuido de vós, por esses três motivos, e não poderia nunca desinteressar-Me de quem criei, de quem resgatei e de quem deve ser Minha Glória.

. . . Tu estás impulsionado para este caminho e deverás percorrê-lo todo e, como foi para Mim, não apenas servirá para ti, mas também para muitos de teus irmãos que devem receber de Mim, por teu intermédio, Graça e Vida.

. . . Avança, porque Me comprazo nisso; aprende, porque o amor quer possuir-te por completo.

. . . Eu te dou a Minha bênção, repleta de promessas. Eu vos dou Minha bênção com o poder de que gozo como homem, poder que é vosso; alegria que concederei com o prêmio que confirmará Meu infinito amor por vós.

. . . Havia chegado Minha hora; a hora em que deveria consumar o sacrifício, e Me entreguei aos soldados com a docilidade de um cordeiro.

 

JESUS É LEVADO A CAIFÁS

. . .Levaram-Me diante de Caifás, onde Me receberam com gozações e insultos. Um de seus soldados Me deu uma bofetada. Era a primeira que recebia e nela vi o primeiro pecado mortal de muitas almas que, depois de viver em graça, cometeriam esse primeiro pecado... Quantos outros por trás desse primeiro pecado, servindo de exemplo para que outras almas também os cometam.

. . . Meus Apóstolos Me abandonaram e Pedro ficou escondido atrás de uma cerca, entre os serviçais, espiando, movido pela curiosidade.

. . . Comigo havia somente homens tratando de acumular delitos contra Mim; culpas que puderam acender ainda mais a cólera de juízes tão iníquos. Ali vi os rostos de todos os demônios, de todos os anjos maus. Acusaram-Me de perturbar a ordem, de ser instigador, falso profeta, blasfemo, de profanar o dia do sábado, e os soldados, exaltados pelas calúnias, proferiam gritos e ameaças.

. . . Então, Meu silêncio bradou, sacudindo todo Meu Corpo: "Onde estais, Apóstolos e discípulos, que fostes testemunhas de Minha Vida, de Minha doutrina, de Meus milagres? De todos aqueles de quem esperava alguma prova de amor, não resta nenhum para defender-Me. Estou só e rodeado de soldados que querem Me devorar como lobos".

. . . Contemplai como Me maltratavam: um descarrega sobre Meu rosto uma bofetada; outro me atira sua imunda saliva; outro Me torce o rosto em tom de zombaria; outro Me puxa a barba; outro retorce Meus braços entre seus dedos; outro golpeia Meus genitais com seu joelho e, quando caio, dois deles Me levantam pelos cabelos...

 

PEDRO NEGA JESUS

. . .Enquanto Meu Coração se oferece para sofrer todos estes suplícios, Pedro, a quem havia instituído "Chefe e Cabeça da Igreja" e quem, horas antes, havia prometido seguir-Me até à morte, a uma simples pergunta que lhe fazem, e que poderia ter-lhe servido para dar testemunho de Mim, nega-Me. E, como o temor se apodera ainda mais dele, diante da repetição da pergunta jura que jamais Me conheceu nem foi Meu discípulo. Interrogado pela terceira vez, responde com horríveis imprecações.

. . . Filhinhos, quando o mundo clama contra Mim e, voltando-Me para Minhas almas escolhidas, vejo-Me abandonado e renegado, sabeis quão grande é a tristeza e a amargura de Meu Coração?

. . . Eu vos direi, como a Pedro: "Alma a quem tanto amo, já não te recordas das provas de amor que te tenho dado? Esquece-te de que muitas vezes Me prometeste ser fiel a Mim e defender-Me?

. . . Não confies em ti mesmo porque ficarás perdido; mas, se recorreres a Mim com humildade e firme confiança, nada temas; estarás bem sustentado."

. . . Almas que vivei rodeadas de tantos perigos, não vos metais em ocasiões de pecado por vã curiosidade; vede que caireis como Pedro.

. . . E vós, almas que trabalhais em Minha vinha: se vos sentirdes movidas pela curiosidade ou por alguma satisfação humana, direi a Vós que fujais; mas, se trabalhais por obediência e impulsionadas pelo zelo das almas e de Minha glória, não temais: Eu vos defenderei e saireis vitoriosas.

. . . Minha amada, vou te educando pouco a pouco e com muita paciência. Consolo-Me com o pensamento de ter uma aluna desejosa de compreender. Assim Me esqueço de tuas negligências e erros. Se busco na criação os nomes mais belos para chamar-te, não te assustes, por que os suprimes? O amor não tem limites.

 

JESUS É LEVADO À PRISÃO

. . .Vamos seguir com este doloroso relato que terás de fazer chegar a tantas pessoas quantas possas. Eu vos iluminarei sobre o modo em que ireis fazê-lo.

. . . Quando os soldados Me levaram prisioneiro, em um dos pátios estava Pedro, meio oculto entre a multidão. Nossos olhares se cruzaram: ele estava com os olhos esbugalhados. Foi apenas uma fração de segundo e, no entanto, Eu lhe disse tanto!... Vi-o chorar amargamente seu pecado e com o Coração lhe disse: "O inimigo tratou de te possuir, mas Eu não te abandonei. Sei que teu coração não Me renegou. Esteja pronto para o combate do novo dia, para as renovadas lutas contra o obscurantismo espiritual e prepara-te para levar a Boa Nova. Adeus, Pedro".

. . . Quantas vezes olho para a alma que pecou, mas, ela olha também? Nem sempre se encontram nossos olhares. Quantas vezes olho para a alma e ela não olha para Mim, não Me vê, está cega... Chamo-a pelo seu nome e não Me responde. Envio-lhe uma pena, uma dor, para que saia de seu sonho, mas não quer acordar.

. . . Meus amados, se não olhais para o Céu, vivereis como seres privados de razão... Levantai a cabeça e contemplai a Pátria que vos espera. Buscai a vosso Deus e sempre O encontrareis com os olhos fixos em vós; e em Seu olhar encontrareis a paz e a vida.

. . . Contemplai-Me na prisão onde passo grande parte da noite. Os soldados vinham insultar-Me com palavras e com ações, empurrando-Me, socando-Me, zombando de Minha condição de homem.

. . . Quase ao amanhecer, fartos de Mim, deixaram-Me sozinho, preso em um lugar escuro, úmido e hediondo, cheio de ratos. Estava preso de tal modo que só podia permanecer em pé ou sentado em uma pedra pontiaguda, que foi tudo o que Me deram como assento. Meu corpo dolorido logo ficou hirto de frio. Lembrei-Me dos milhares de vezes em que Minha Mãe cobria Meu corpo, agasalhando-o quando tinha frio... e chorei.

. . . Vamos agora comparar a prisão com o Sacrário e, sobretudo, com os corações dos homens. Na prisão passei uma noite... Quantas noites passo no Sacrário?

. . . Na prisão Me ultrajaram os soldados que eram Meus inimigos; mas no Sacrário Me maltratam e Me insultam almas que Me chamam de Pai. Na prisão passei frio, sono, fome, vergonha, tristeza, dores, solidão, desamparo. Via, no transcurso dos séculos, como Me faltaria o abrigo do amor em tantos Sacrários. Quantos corações gelados seriam para Mim como a pedra da prisão!

. . . Quantas vezes teria sede de amor, sede de almas! Quantos dias espero que tal alma Me venha visitar, receber-Me em seu coração, porque passei a noite sozinho e pensava nela para matar Minha sede! Quantas vezes sinto fome de Minhas almas, de sua fidelidade, de sua generosidade!

. . . Saberão elas acalmar estas ânsias? Saberão dizer-Me, quando tiverem que passar por algum sofrimento: "isto servirá para aliviar Tua tristeza, para acompanhar-Te em Tua solidão"? E, ai!, se, pelo menos, unidos a Mim suportásseis tudo com paz e saísseis fortalecidos por terdes consolado Meu Coração...

. . . Na prisão senti vergonha ao ouvir as palavras horríveis que diziam contra Mim; e essa vergonha aumentou ao ver que, mais tarde, essas mesmas palavras seriam repetidas por almas amadas.

. . . Quando aquelas mãos sujas e repugnantes descarregavam sobre Mim socos e bofetadas, vi quantas vezes seria golpeado por tantas almas que, sem se purificarem de seus pecados, sem limpar sua casa com uma boa confissão, receber-Me-iam em seus corações. Esses pecados habituais descarregariam sobre Mim repetidos golpes.

. . . Quando Me faziam levantar aos empurrões, sem forças e por causa das correntes que Me prendiam, Eu caía no chão. Vi como tantas almas, atando-Me com as correntes de sua ingratidão, deixar-Me-iam cair sobre as pedras, renovando Minha vergonha e prolongando Minha solidão.

. . . Almas eleitas, contemplai o vosso Esposo na prisão. Contemplai-Me nesta noite de tanta dor, e considerai que esta dor se prolonga na solidão de tantos Sacrários, na frieza de tantos corações.

. . . Se desejais dar-Me uma prova de vosso amor, abri-Me vosso coração para poder fazer dele Minha prisão. Atai-Me com as cadeias de vosso amor. Cobri-Me com vossas delicadezas, alimentai-Me com vossa generosidade. Saciai Minha sede com vosso zelo. Consolai Minha tristeza e desamparo com vossa fiel companhia. Fazei desaparecer Minha vergonha com vossa pureza e retidão de intenções.

. . . Se quereis que Eu descanse em vós, evitai o tumulto das paixões e, no silêncio de vossa alma, dormirei tranqüilo. De vez em quando ouvireis Minha voz que vos diz suavemente: "Minha Esposa, que agora és Meu descanso, serei teu pela eternidade. A ti, que com tanto desvelo e amor Me confias a prisão de teu coração, Eu te prometo que Minha recompensa não terá limites e não te pesarão os sacrifícios que tiveres feito por Mim durante tua vida".

 

JESUS É LEVADO A HERODES

. . .Pilatos mandou que Me levassem à presença de Herodes... Era um pobre homem corrompido que somente buscava o prazer, deixando-se arrastar por suas paixões desordenadas. Alegrou-se ao ver-Me comparecer diante de seu tribunal, pois esperava divertir-se com Minhas palavras e milagres.

. . . Considerai, filhos Meus, a repulsa que experimentei na presença do mais repugnante dos homens, cujas palavras, perguntas, gestos e movimentos afetados, cobriam-Me de perplexidade. Almas puras e virgens, vinde rodear e defender vosso Esposo.

. . . Herodes espera que Eu responda a suas perguntas sarcásticas, mas não abro Meus lábios; guardo em sua presença o mais absoluto silêncio. Não responder era a maior prova que podia lhe dar de Minha dignidade. Suas palavras obscenas não mereciam cruzar-se com as Minhas, puríssimas. Enquanto isso, Meu Coração estava intimamente unido ao Meu Pai Celestial. Consumia-Me em desejos de dar pelas almas até a última gota de Meu Sangue. O pensamento de que todos os homens logo haveriam de seguir-Me, conquistados por Meus exemplos e Minha liberalidade, inflamava-Me de amor e não somente me alegrava com aquele terrível interrogatório, como desejava correr ao suplício da Cruz.

 

JESUS É LEVADO NOVAMENTE A PILATOS

. . .Deixei que Me tratassem como a um louco e Me cobrissem com uma veste branca em sinal de zombaria e irrisão. Depois, entre gritos furiosos, levaram-Me de novo à presença de Pilatos.

. . . Vede como este homem aturdido e cheio de confusão não sabe o que fazer de Mim; e para apaziguar o furor da turba, manda que Eu seja açoitado...

. . . Representadas em Pilatos, vi as almas que carecem de coragem e generosidade para romper energicamente com as exigências do mundo e da natureza. Em vez de cortar pela raiz o que a consciência lhes diz não ser do mundo e da natureza, nem do bom espírito, cedem a um capricho, distraem-se numa ligeira satisfação, rendem-se em parte com o que a paixão exige e, para calar os remorsos, dizem para si mesmas: "já me privei disto e daquilo, e é suficiente".

. . . Direi somente isto a essa alma: "Tu me fazes flagelar como Pilatos! Já deste um passo, amanhã outro. Pensas satisfazer deste modo tua paixão? Não! Logo ela te exigirá mais e mais.

. . . Como não tiveste coragem para lutar contra tua própria natureza nesta pequenez, muito menos terás depois, quando a ocasião for maior".  

 

A FLAGELAÇÃO DE JESUS

. . .Olhai-Me, amados Meus, deixando-Me conduzir, com a mansidão de um cordeiro, ao tremendo suplício da flagelação. Sobre Meu corpo, já coberto de golpes e oprimido pelo cansaço, os verdugos descarregam cruelmente — com cordas trançadas, com varas — terríveis açoites. É tanta a violência com que Me castigam, que não restou um só lugar que não fosse presa da mais terrível dor... Os golpes e pontapés Me causaram inumeráveis ferimentos... As varas arrancavam pedaços de Minha pele e Minha carne. O Sangue brotava de todos os Meus membros... Caí uma e outra vez pela dor que Me causavam os golpes em Minha virilidade. Meu corpo estava em tal estado, que mais parecia um monstro que um homem. As feições de Meu rosto haviam perdido sua forma, era um só edema.

. . . O pensamento de tantas almas, a quem mais tarde iria inspirar o desejo de seguir Meus passos, consumia-Me de amor.

. . . Durante as horas de prisão, via-as fiéis imitadoras, aprendendo de Minha mansidão, paciência, serenidade. Não somente para aceitar os sofrimentos e desprezos, mas também amando aos que as perseguem e, se necessário, sacrificando-se por eles, como Eu Me sacrifiquei.

. . . Como Me inflamava cada vez mais em desejos de cumprir perfeitamente a Vontade de Meu Pai, naquelas horas de solidão, em meio a tanta dor! Como Me ofereci para reparar Sua Glória ultrajada! Assim vós, almas religiosas, que vos encontrais na prisão escolhida por amor, que mais de uma vez passais aos olhos das criaturas por inúteis e até por prejudiciais, não temais. Deixai que gritem contra vós e, nessas horas de solidão e dor, uni intimamente vosso coração a vosso Deus, objeto único de vosso amor. Reparai Sua Glória, por tantos pecados!

 

JESUS É CONDENADO À MORTE

. . .Ao amanhecer, Caifás ordenou que Me conduzissem a Pilatos para que pronunciasse a sentença de morte. Este Me interrogou, desejoso de achar um motivo para condenar-Me, mas, ao mesmo tempo, sua consciência o atormentava e sentia um grande temor diante da injustiça que ia cometer. Por fim, encontrou um meio para desentender-se Comigo e mandou que Me levassem a Herodes.

. . . Em Pilatos estão fielmente representadas as almas que, sentindo ao mesmo tempo o movimento da graça e de suas paixões, dominadas pelo respeito humano e cegadas pelo amor-próprio, pelo temor de parecerem ridículas, deixam passar a graça.

. . . A todas as perguntas de Pilatos, nada respondi. Mas quando Me disse: És tu o Rei dos Judeus? Então, com gravidade e firmeza, respondi: "Tu o dizes, Eu sou o Rei; mas Meu reino não é deste mundo..." Com estas palavras quis ensinar a muitas almas como, quando se apresenta a ocasião de suportar o sofrimento, ou uma humilhação que poderiam facilmente evitar, devem responder com generosidade: "Meu reino não é deste mundo, isto é, não busco os elogios dos homens; Minha Pátria não é esta, descansarei na que verdadeiramente o é. Agora, ânimo para cumprir meu dever sem ter em consideração a opinião do mundo. O que me importa não é sua estima, mas seguir a voz da graça, afogando as reclamações da natureza. Se não sou capaz de vencer sozinho, pedirei força e conselho, pois, em muitas ocasiões, as paixões e o excessivo amor-próprio cegam a alma e a impulsionam a fazer o mal."

. . . Não são nem 10 nem 20 os algozes que destroçam Meu Corpo; são muitíssimas as mãos que ferem Meu Corpo, recebendo a comunhão na mão — o trabalho sacrílego de Satanás.

. . . Como podeis Me contemplar neste mar de dor e amargura, sem que vosso coração se mova à compaixão?

. . . Mas, não são os verdugos que Me hão de consolar, e sim vós, almas escolhidas, para que alivieis Minha dor. Contemplai Minhas feridas e vede se há alguém que tenha sofrido tanto quanto Eu, para demonstrar-vos seu amor.

 

JESUS É COROADO DE ESPINHOS

. . .Na Vontade de Meu Pai, vivi dias de intensa tristeza, sem queixar-Me, porém na aceitação do que o Pai Me queria fazer sentir. Quando fui aprisionado no Horto, os que Me acusavam estavam dispostos a qualquer mentira e Me deixei levar aonde quisessem, sem a mínima resistência. E quando quiseram cingir Minha cabeça com a coroa de espinhos, inclinei a cabeça, sem mais, porque a recebia das mãos dAquele que Me enviou ao mundo.

. . . Quando os braços daqueles homens cruéis ficaram cansados, de tanto descarregar golpes sobre Meu Corpo, colocaram sobre Minha cabeça uma coroa tecida com galhos de espinhos e, desfilando diante de Mim, diziam-Me: Então és Rei?... Nós Te saudamos!

. . . Uns Me cuspiam, outros Me insultavam, outros descarregavam novos golpes contra Minha cabeça, cada um acrescentando uma nova dor a Meu Corpo maltratado e desfeito.

. . . Estou cansado, não tenho onde descansar; empresta-Me teu coração e teus braços, para cobrir-Me com teu amor. Tenho frio e febre; abraça-Me um instante, antes que continuem destruindo este templo de amor.

. . . Os soldados e algozes, com suas mãos sujas, empurram Meu Corpo; outros, com asco de Meu Sangue, empurram-Me com suas lanças e voltam a abrir Minha carne. Sentam-Me com um empurrão sobre um lugar de pedras afiadas. Choro em silêncio pela dor e eles, de modo grotesco, zombam de Minhas lágrimas. Finalmente, rasgam Minha fronte encaixando a coroa de galhos trançados de espinhos.

. . . Considerai como, com essa coroa, quis expiar os pecados de soberba de tantas almas que se deixam subjugar pela falsa opinião do mundo, desejando ser estimadas em excesso. Permiti, sobretudo, que Me coroassem de espinhos e que assim Minha cabeça sofresse cruelmente, a fim de reparar, pela humildade voluntária, as rejeições e orgulhosas pretensões de tantas almas que se negam a seguir o caminho traçado por Minha Providência, por julgá-lo indigno de seu mérito e de sua condição.

. . . Nenhum caminho é humilhante quando está traçado pela Vontade de Deus... Em vão tentareis enganar-vos a vós mesmos pensando seguir a vontade de Deus e em plena submissão a tudo o que Ele vos pedir.

. . . Há no mundo pessoas que, quando chega o momento da decisão (de assumir um novo modo de vida), refletem e examinam os desejos de seu coração. Talvez encontrem, naquele ou naquela a quem pensam unir-se, os fundamentos sólidos para uma vida cristã e piedosa; quem sabe vejam cumprir enfim, em seus deveres de família, o necessário para satisfazer seus desejos de felicidade. Mas a vaidade e o orgulho vêm a escurecer seu espírito e elas se deixam arrastar pelo afã de aparecer, de se destacar. Então, planejam buscar alguém que, sendo mais nobre, mais rico, satisfaça sua ambição. Ah! Quão nesciamente se cegam! Não, Eu vos direi: não encontrareis a verdadeira felicidade neste mundo, e oxalá a encontreis no outro. Vede bem, que vos pondes em grande perigo!

. . . Falarei também às almas chamadas para o caminho da perfeição. Quantas ilusões nas que Me dizem estar dispostas a fazer Minha Vontade e que cravam em Minha cabeça os espinhos de Minha coroa.

. . . Há, respectivamente, almas que quero para Mim. Conhecendo-as e amando-as, desejo colocá-las onde vivo, em Minha sabedoria infinita, onde encontrarão tudo que é necessário para chegar à santidade: ali será onde Me farei conhecer a elas e onde Me darão mais consolo, mais amor e mais almas.

. . . Mas, quantas decepções! Quantas almas se cegam pelo orgulho e soberba ou por uma mesquinha ambição. Enchem a cabeça de vãos e inúteis pensamentos, negam-se a seguir o caminho que lhes traça Meu amor.

. . . Almas que Eu havia eleito, credes cumprir Minha Vontade resistindo à voz da graça que vos chama e encaminha por essa senda que vosso orgulho rejeita?

. . . Filha Minha, amor de Minhas dores, consola-Me; faz em teu coração pequenino um trono para teu Rei e Salvador, e coroa-Me de beijos.

. . . Coroado de espinhos e coberto com um manto púrpura, os soldados Me apresentaram de novo a Pilatos. Não encontrando em Mim um delito para castigar-Me, Pilatos Me fez várias perguntas, e questionou por quê Eu não lhe respondia, sabendo que ele tinha todo poder sobre Mim.

. . . Então, rompendo Meu silêncio, disse-lhe: "Não terias esse poder, se não te houvesse sido dado do alto; mas é preciso que se cumpram as Escrituras". E, abandonando-Me a Meu Pai Celestial, calei-Me novamente...

 

BARRABÁS É POSTO EM LIBERDADE

. . .Pilatos, perturbado pelo aviso de sua mulher, perplexo entre as inquietações de sua consciência e o medo de que o povo se amotinasse contra ele, buscava meios para libertar-Me e Me expôs à vista do povo, no lastimoso estado em que Me encontrava, propondo-lhes dar-Me a liberdade e condenar em Meu lugar a Barrabás, que era um ladrão e criminoso famoso. A uma voz respondeu o povo: "Que morra e que Barrabás seja posto em liberdade".

. . . Almas que Me amais, vede como Me compararam a um criminoso. Vede como Me rebaixaram mais do que ao mais perverso dos homens. Ouvi que gritos furiosos lançam contra Mim. Vede com que raiva pedem Minha morte. Recusei, por acaso, passar por tanta penosa afronta? Não, ao contrário, abracei-Me a ela por amor às almas e para mostrar-vos que este amor não Me levou somente à morte, mas à morte mais ignominiosa...

. . . Não creiais, no entanto, que Minha natureza humana não sentiu nem repugnância nem dor. Ao contrário, quis sentir todas as vossas repugnâncias e estar sujeito a vossa mesma condição, dando-vos exemplo que vos fortaleça em todas as circunstâncias da vida e vos ensine a vencer as rejeições que se apresentam, quando se trata de cumprir a Vontade Divina.

. . . Volto às almas às quais falava ontem... As almas chamadas ao estado de perfeição, que discutem com a graça e retrocedem diante da humildade do caminho que lhes mostro, por temor aos juízos do mundo ou fazendo valer sua capacidade; que se convencem de que em outro lugar serão mais úteis para Meu serviço e para Minha Glória.

. . . Vou responder a essas almas. Diz-Me: recusei ou sequer vacilei, quando Me vi nascer de pais pobres e humildes em um estábulo, longe de Minha casa e Minha Pátria, na mais cruel estação do ano... à noite?

. . . Depois, vivi trinta anos nas ocupações escondidas e rudes de uma oficina; passei por humilhações e desprezos por parte dos que encomendavam trabalhos de Meu Pai José. Não desdenhei ajudar a Minha Mãe nas tarefas mais simples da casa e, no entanto, não tinha Eu mais talento do que o que se exige para exercer o tosco ofício de carpinteiro? Eu, que na idade de 12 anos instruí os Doutores no Templo... Mas era a Vontade de Meu Pai Celestial e assim O glorificava. Quando deixei Nazaré e comecei Minha vida pública, poderia ter Me dado a conhecer como Messias e Filho de Deus para que os homens escutassem Meus ensinamentos com veneração, mas não o fiz porque Meu único desejo era cumprir a Vontade de Meu Pai...

. . . E quando chegou a hora de Minha Paixão, através da crueldade de uns e das afrontas de outros, do abandono dos Meus e da ingratidão das multidões, através do indizível martírio de Meu Corpo e das repugnâncias de Minha alma, vejam com que maior amor ainda descobria e abraçava a Vontade de Meu Pai Celestial.

. . . Assim, quando, sobrepondo-se às dificuldades e repugnâncias, a alma se submete generosamente à Vontade de Deus, chega um momento em que, unida intimamente a Ele, goza das mais inefáveis doçuras.

. . . Isto que disse às almas que sentem aversão à vida humilde e escondida, repito às que, pelo contrário, são chamadas a trabalhar em contínuo contato com o mundo, quando seu atrativo seria a completa solidão e os trabalhos humildes e ocultos.

. . . Almas escolhidas, vossa felicidade e vossa perfeição não consistem em seguir os gostos e inclinações da natureza, em serdes conhecidas ou desconhecidas pelas criaturas, em empregar ou ocultar o talento que possuís, senão em unir-vos e conformar-vos, por amor e com inteira submissão, à Vontade de Deus, àquilo que, para Sua Glória e vossa própria santificação, Ele Vos pedir.

. . . Basta por hoje, filhinha; ama e abraça Minha Vontade alegremente. Já sabes que estás totalmente delineada pelo amor.

. . . Medita por um momento o indizível martírio de Meu Coração, ao se ver preterido a Barrabás. Como recordava então as ternuras de Minha Mãe, quando Me estreitava a Seu Coração! O quão presente tinha os desvelos e fadigas que, para mostrar-Me Seu amor, sofreu Meu Pai adotivo. Como se apresentavam a Minha memória os benefícios que tão liberalmente derramei sobre aquele povo ingrato, dando vista aos cegos, devolvendo a saúde aos enfermos, o uso de seus membros aos que o haviam perdido, dando de comer à multidão e ressuscitando os mortos. Para agora ver-Me reduzido ao estado mais desprezível! Sou o mais odiado dos homens e Me condenam à morte, como um ladrão infame.

 

JESUS PERDOA ATÉ O MAIOR PECADOR

. . .Pilatos pronunciou a sentença. Meus filhinhos, considerai atentamente o quanto sofreu Meu Coração...

. . . Desde que Me entregou no Horto das Oliveiras, Judas andou errante e fugitivo sem poder calar os gritos de sua consciência, que o acusava do mais horrível sacrilégio. Quando chegou aos seus ouvidos a sentença de morte pronunciada contra Mim, entregou-se ao mais terrível desespero e se enforcou.

. . . Quem poderá compreender a dor intensa de Meu Coração quando vi lançar-se à perdição eterna essa alma que havia passado três anos na escola de Meu amor, aprendendo Minha doutrina, recebendo Meus ensinamentos, ouvindo tantas vezes como Meus lábios perdoavam aos maiores pecadores?

. . . Judas! Por que não vens jogar-te a Meus pés para que Eu te perdoe? Se não te atreves a aproximar-te de Mim por medo dos que Me rodeiam, maltratando-Me com tanto furor, olha-Me ao menos; verás como logo os Meus olhos se fixarão em ti.

. . . Almas que estais enredadas nos maiores pecados... Se por mais ou menos tempo tendes vivido errantes e fugitivas por causa de vossos delitos, se os pecados de que sois culpadas vos tem cegado e endurecido o coração, se por seguir alguma paixão caístes em grande perturbação, não deixeis que se apodere de vós o desespero, quando vos abandonarem os cúmplices de vosso pecado e quando vossa alma se der conta de vossa culpa... Enquanto o homem tiver um instante de vida, ainda terá tempo de recorrer à Misericórdia e de implorar o perdão.

. . . Se sois jovens e os escândalos de vossa vida passada vos tiver deixado em um estado de degradação diante dos homens, não temais! Ainda que o mundo vos despreze, julgando-vos maus, insultando-vos, abandonando-vos, estai certos de que vosso Deus não quer que vossa alma seja pasto das chamas do inferno. Ele deseja que vos atrevais a falar-Lhe, a dirigir-Lhe olhares e suspiros do coração, e logo vereis que Sua mão bondosa e paterna vos conduzirá à fonte do perdão e da vida.

. . . Se, por malícia, talvez tenhas passado grande parte de tua vida na confusão e na indiferença e, já perto da eternidade, o desespero quiser colocar uma venda em teus olhos, não te deixes enganar, ainda é tempo de perdão. Ouvi bem: se vos resta um segundo de vida, aproveitai-o, porque nele podeis ganhar a vida eterna.

. . . Se tiverdes passado vossa existência na ignorância e no erro, se tiverdes sido causa de grandes danos para os homens, para a sociedade e até para a Religião, e por qualquer circunstância conheceis vosso erro, não vos deixeis abater pelo peso das faltas nem pelo dano de que tiverdes sido instrumento, mas pelo contrário, deixando que vossa alma seja penetrada da mais viva contrição, abismai-vos na confiança e recorrei Àquele que sempre vos está esperando para perdoar-vos.

. . . O mesmo acontece se se trata de uma alma que passou os primeiros anos de sua vida na fiel observância de Meus mandamentos, mas que decaiu pouco a pouco no fervor, passando a uma vida tíbia e cômoda...

. . . Não ocultes nada do que te digo, pois tudo é para benefício da humanidade inteira. Repete-o à luz do sol, prega-o àquele que quer verdadeiramente escutar.

. . . A alma que um dia recebe uma forte sacudida que a desperta, vê logo sua vida inútil, vazia, sem méritos para a eternidade. O maligno, com inveja infernal, ataca-a de mil maneiras, aumentando suas faltas; inspira-lhe tristeza e desalento, acabando por levá-la ao temor, ao desespero.

. . . Alma que Me pertences, não faças caso desse cruel inimigo e, sentindo a moção da graça no início de tua luta, acode ao Meu Coração; sente, contempla como verte uma gota de Seu Sangue sobre tua alma e vem a Mim. Já sabes onde Me encontro: sob o véu da fé... Levanta-o e diz-Me com inteira confiança tuas penas, tuas misérias, tuas quedas... Escuta com respeito Minhas palavras e não temas pelo passado. Meu Coração o submergiu no abismo de Minha Misericórdia e Meu amor.

. . . Tua vida passada te dará a humildade que te cumulará. E se quiseres dar-Me a melhor prova de amor, tem confiança e conta com Meu perdão. Crê que nunca os teus pecados chegarão a ser maiores que a Minha Misericórdia, pois é infinita.

 

JESUS SEGUE A CAMINHO DO CALVÁRIO

. . .Vamos continuar, filhinha. Segue-Me no caminho do Calvário, oprimido sob o peso da Cruz...

. . . Enquanto Meu Coração estava abismado de tristeza pela perdição eterna de Judas, os cruéis algozes, insensíveis à Minha dor, carregaram sobre Meus ombros chagados a dura e pesada Cruz em que haveria de consumar o mistério da Redenção do mundo.

. . . Contemplai-Me, anjos do céu. Vede o Criador de todas as maravilhas, o Deus a Quem rendem adoração os espíritos celestes, caminhando em direção ao Calvário e levando sobre Seus ombros o lenho santo e bendito que irá receber Seu último suspiro.

. . . Vede-Me também vós, almas que desejais ser Minhas fiéis imitadoras. Meu Corpo, destroçado por tanto tormento, caminha, sem forças, banhado de suor e de sangue... Sofro, sem que ninguém se compadeça de Minha dor! A multidão Me acompanha e não há uma só pessoa que tenha piedade de Mim. Todos Me rodeiam como lobos famintos, desejosos de devorar sua presa... É que todos os demônios saíram do inferno para tornar mais duro o Meu sofrimento.

. . . A fadiga que sinto é tão grande, a Cruz tão pesada, que na metade do caminho caio desfalecido. Vede como Me levantam aqueles homens desumanos do modo mais brutal: um Me agarra por um braço, outro puxa Minhas vestes, que estão grudadas em Minhas feridas, tornando a abri-las... Este Me pega pelo pescoço, outro pelos cabelos, outros descarregam terríveis golpes em todo o Meu Corpo, com os punhos e até com os pés. A Cruz cai sobre Mim e seu peso Me causa novos ferimentos. Meu rosto roça sobre as pedras do caminho e o sangue que escorre por ele cai em Meus olhos, que estão quase fechados pelos golpes; o pó e a lama se juntam ao sangue e fico como o objeto mais repugnante.

. . . Meu Pai envia anjos para que Me ajudem a Me sustentar, para que Meu Corpo não perca a consciência ao cair; para que a batalha não seja ganha antes do tempo e Eu perca todas as Minhas almas.

. . . Caminho sobre as pedras que destroçam Meus pés, tropeço e caio uma e outra vez. Olho para os lados do caminho em busca de um pequeno olhar de amor, de uma entrega, de uma união a Minha dor, mas... não vejo ninguém.

. . . Filhos Meus, que seguem Meus passos, não solteis vossa cruz por mais pesada que esta vos pareça. Fazei isto por Mim, pois carregando vossa cruz ajudar-Me-eis a carregar a Minha e, pelo duro caminho, encontrareis Minha Mãe e as almas santas que irão vos dando ânimo e alívio. Segui Comigo uns momentos e, a poucos passos, ver-Me-eis na presença de Minha Mãe Santíssima que, com o Coração transpassado pela dor, sai ao Meu encontro com dois objetivos: para recobrar nova força de sofrer à vista de Seu Deus e para dar a Seu Filho, com Sua atitude heróica, alento para continuar a obra da Redenção.

. . . Considerai o martírio destes dois Corações. Quem mais ama Minha Mãe é Seu Filho... Não pode Me dar nenhum alívio e sabe que o fato de vê-la aumentará ainda mais Meus sofrimentos; mas também aumentará Minha força para cumprir a vontade do Pai.

. . . Quem mais amo na terra é Minha Mãe; e não apenas não a posso consolar, como o estado lamentável em que Me vê proporciona a Seu coração um sofrimento semelhante ao Meu. Deixa escapar um soluço. A morte que sofro em Meu Corpo, recebe-a Minha Mãe em Seu Coração!... Como se cravam em Mim Seus olhos e os Meus se cravam também nEla! Não pronunciamos uma só palavra, mas quantas coisas dizem Nossos Corações neste doloroso olhar.

. . . Sim, Minha Mãe presenciou todos os tormentos de Minha Paixão, que por revelação divina se apresentavam a Seu espírito. Além disso, vários discípulos, embora permanecessem longe por medo dos judeus, procuravam saber de tudo e informavam Minha Mãe... Quando soube que já se havia pronunciado a sentença de morte, saiu ao Meu encontro e não Me abandonou até que Me depositaram no sepulcro.

 

JESUS É AJUDADO A CARREGAR A CRUZ

. . .Vou a caminho do Calvário. Aqueles homens iníquos, temendo ver-Me morrer antes de chegar ao fim, entendem-se entre si para buscar alguém que Me ajude a carregar a Cruz e requisitaram um homem das redondezas chamado Simão.

. . . Olhai-o, atrás de Mim, ajudando-Me a carregar a Cruz e considerai sobretudo duas coisas: este homem carece de boa vontade; é um mercenário, porque se Me acompanha e compartilha Comigo o peso da Cruz, é porque foi requisitado. Por isso, quando sente demasiado cansaço, deixa cair mais peso sobre Mim e assim caio por terra duas vezes.

. . . Este homem Me ajuda a carregar parte da Cruz, mas não toda a Minha Cruz...

. . . Há almas que caminham assim atrás de Mim. Aceitam Me ajudar a carregar Minha Cruz, mas se preocupam ainda com o consolo e o descanso. Muitas outras consentem seguir-Me e, assim, abraçaram a vida perfeita. Mas não abandonam o interesse próprio, que continua sendo, em muitos casos, seu primeiro cuidado; por isso vacilam e deixam cair Minha Cruz, quando lhes pesa demasiado. Procuram a maneira de sofrer o menos possível, medem sua abnegação, evitam o quanto podem a humilhação e o cansaço e, talvez lembrando-se com pena daqueles que deixaram, tratam de procurar para si certas comodidades, certos prazeres.

. . . Em uma palavra, há almas tão interesseiras e tão egoístas, que vieram Me seguir mais por elas do que por Mim. Resignam-se somente a aproximar-se do que lhes incomoda e que não podem afastar... Não me ajudam a carregar mais que uma parte de Minha Cruz; muito pequena e de tal modo que podem apenas adquirir os méritos indispensáveis para sua salvação. Mas, na eternidade, verão o quão longe ficaram no caminho que deveriam percorrer.

. . . Pelo contrário, há almas, e não poucas, que, movidas pelo desejo de sua salvação, mas sobretudo pelo amor que lhes inspira a visão do que por elas sofri, decidem-se a seguir-Me no caminho do Calvário; abraçam-se à vida perfeita e se entregam ao Meu serviço, não para ajudar-Me a carregar parte da Cruz, mas para levá-la toda inteira. Seu único desejo é dar-Me descanso, consolar-Me; oferecem-se com este fim a tudo o que lhes pede Minha vontade, buscando tudo que possa Me agradar. Não pensam nem nos méritos, nem na recompensa que os aguarda, nem no cansaço, nem no sofrimento que lhes caberá. A única coisa em que pensam é o amor que podem Me demonstrar, o consolo que procuram para Mim...

. . . Se Minha Cruz se apresenta sob a forma de uma enfermidade, se se esconde debaixo de um emprego contrário a suas inclinações e pouco conforme a suas aptidões, se vai acompanhada de algum esquecimento das pessoas que as rodeiam, aceitam-na com inteira submissão.

. . . Ah!, estas almas são as que verdadeiramente carregam Minha Cruz, adoram-na, servem-se dela para buscar Minha Glória, sem outro interesse nem paga que o Meu amor. São as que Me consideram e glorificam...

. . . Tende como coisa certa que, se não vedes o resultado de vossos sofrimentos, de vossa abnegação, ou o vedes mais tarde, nem por isso foram vãos e sem fruto mas, pelo contrário, o fruto será abundante.

. . . A alma que verdadeiramente ama, não conta o que sofreu e trabalhou, nem espera tal ou qual recompensa; busca somente aquilo que crê dar glória para seu Deus... Por Ele, não regateia trabalhos nem fadigas. Não se agita nem se inquieta, nem muito menos perde a paz se se vê contrariada ou humilhada; porque o único móvel de suas ações é o amor, e o amor abandona as conseqüências e os resultados. Eis aqui o fim das almas que não buscam recompensa. A única coisa que esperam é Minha Glória, Meu consolo, Meu descanso; por isso tomaram toda a Minha Cruz e todo o peso que Minha Vontade deseja carregar sobre elas.

. . . Filhos Meus, chamai-Me por Meu nome, pois Jesus quer dizer tudo. Eu lavarei vossos pés, aqueles pés que pisaram uma senda escorregadia e que agora estão feridos pelos choques contra as pedras. Eu os enxugarei, sararei, beijarei, e ficarão sãos, e já não conhecerão outra senda senão a que conduz a Mim.

. . . Já estamos no Calvário! A multidão se agita porque se aproxima o terrível momento... Extenuado de fadiga, mal posso andar. Meus pés sangram pelas pedras do caminho... Três vezes caí no trajeto. Uma, para dar aos pecadores, habituados ao pecado, a força de se converterem. Outra, para dar alento às almas que caem por fragilidade, e às almas cegas pela tristeza e inquietação, para animá-las a levantar-se e a empreender com coragem o caminho da virtude. E a terceira, para ajudar as almas a sair do pecado na hora da morte.

 

JESUS É PREGADO NA CRUZ

. . .Vê com que crueldade Me rodeiam estes homens endurecidos. Uns pegam a Cruz e a estendem no chão; outros Me arrancam as vestes grudadas às feridas, que se abrem de novo e o sangue volta a jorrar.

. . . Vede, filhos queridos, quanta é a vergonha e a ignomínia que padeço ao ver-Me assim, diante daquela imensa multidão. Que dor para Minha alma!

. . . Os algozes que arrancam a túnica, que com tanto esmero Me vestiu Minha Mãe em Minha infância e que ia crescendo à medida em que Eu crescia, tiram sorte sobre ela. Qual seria a aflição de Minha Mãe, que contempla esta cena?

. . . Quanto Ela desejaria ficar com a túnica tingida e empapada agora com Meu Sangue!

. . . Mas chegou a hora e, estendendo-Me sobre a Cruz, os algozes pegam Meus braços e esticam para que cheguem aos furos, feitos nela... Todo o Meu Corpo se quebranta, balança-se de um lado a outro e os espinhos da coroa penetram em Minha cabeça, ainda mais profundamente. Ouvi a primeira martelada que prega Minha mão direita... ressoa até as profundezas da terra. Ouvi ainda... já pregam Minha mão esquerda e, ante semelhante espetáculo, os Céus se estremecem, os Anjos se prostram. Eu guardo o mais profundo silêncio. Nem uma queixa, nem um gemido escapa de Meus lábios, mas Minhas lágrimas se mesclam com o sangue que cobre Meu rosto.

. . . Assim que cravaram as mãos, pegam cruelmente os pés... As chagas se abrem, os nervos se rompem em Minhas mãos e braços... os ossos se desconjuntam... A dor é intensa!

Meus pés são traspassados e Meu Sangue banha a terra!...

. . . Contemplai um instante estas mãos e estes pés ensangüentados... Este corpo despido, coberto de feridas, urina e de sangue. Sujo... Esta cabeça traspassada por agudos espinhos, empapada de suor, cheia de pó e coberta de sangue...

. . . Admirai em silêncio a paciência e a conformidade com que aceito este sofrimento. Quem é que sofre assim, vítima de tais ignomínias? É o Filho de Deus! Aquele que fez os céus, a terra, o mar e tudo o que existe... Aquele que criou o homem, Aquele que tudo sustém com Seu poder infinito... está aí imóvel, desprezado, despojado e seguido por uma multidão de almas que abandonarão bens de riqueza, família, pátria, honras, bem-estar, glória, o que for necessário, para dar-Lhe glória e demonstrar-Lhe o amor a Ele devidos...

. . . Estai atentos, Anjos do Céu, e vós também, almas que Me amais... Os soldados vão virar a Cruz para rebater os cravos e evitar que com o peso de Meu Corpo eles saiam e Me deixem cair. Meu Corpo vai dar à terra o beijo de paz. E, enquanto as marteladas ressoam pelo espaço, no alto do Calvário se realiza o espetáculo mais admirável... A pedido de Minha Mãe, que, contemplando tudo o que se passava e sendo a Ela impossível dar-Me alívio, implora a Misericórdia de Meu Pai Celeste... Legiões de Anjos baixam para sustentar Meu Corpo, adorando-O, para que não toque a terra e para evitar que o esmague o peso da Cruz.

. . . Contempla teu Jesus, estendido sobre a Cruz, sem poder fazer o menor movimento... despido, sem fama, sem honra, sem liberdade... Tudo Lhe foi tirado! Não há quem se apiede e se compadeça de Sua dor! Só recebe tormentos, escárnios e zombarias!

. . . Se Me amas de verdade, a que não estarás disposto para assemelhar-te a Mim? O que recusarás para obedecer-Me, comprazer-Me e consolar-Me?... Prostra-te por terra e deixa-Me dizer-te umas palavras:

. . . Que Minha Vontade triunfe em ti!

. . . Que Meu amor te destrua!

. . . Que tua miséria Me glorifique!

 

JESUS PRONUNCIA SUAS ÚLTIMAS PALAVRAS

. . .Filha Minha, ouviste e viste Meus sofrimentos; acompanha-Me até o fim e compartilha de Minha dor.

. . . Já está erguida Minha Cruz. Eis a hora da Redenção do mundo!

. . . Sou alvo de zombarias para a multidão... mas também de admiração e de amor pelas almas. Esta Cruz, até agora instrumento de suplício, onde expiravam os criminosos, passará a ser, a partir daí, a luz e a paz do mundo.

. . . Em Minhas Sagradas Escrituras os pecadores encontrarão o perdão e a vida. Meu Sangue lavará e apagará as manchas de seus pecados!

. . . Em Minhas Sagradas Chagas virão as almas puras, a refrescar-se e abrasar-se em Meu amor! Nelas refugiar-se-ão e fixarão para sempre sua morada.

. . . Pai, perdoa-os porque não sabem o que fazem, não conheceram que Àquele que é sua vida... Descarregaram sobre Ele todo o furor de suas iniqüidades. Mas Eu Te rogo, oh Meu Pai!, descarrega sobre elas a força de Tua Misericórdia.

. . . Hoje estarás Comigo no Paraíso, porque tua fé na Misericórdia de teu Salvador apagou teus crimes... Ela te conduz à vida eterna.

. . . Mulher, eis aí Teu Filho!... Minha Mãe, eis aí Meus irmãos! Guarda-os, ama-os... não estão sozinhos.

. . . Oh vós, por quem dei Minha vida têm agora uma Mãe a quem podeis recorrer em todas as vossas necessidades. Eu vos uni a todos com os mais estreitos laços ao vos dar Minha própria Mãe.

. . . A alma já tem o direito de dizer a seu Deus: Por que Me abandonaste? Com efeito, depois de consumado o mistério da Redenção, o homem voltou a ser filho de Deus, irmão de Jesus Cristo, herdeiro da vida eterna...

. . . Oh, Meu Pai... Tenho sede de Tua Glória... e eis que é chegada a hora... De agora em diante, realizando Minhas palavras, o mundo conhecerá que Tu és Aquele que Me enviou e serás glorificado.

. . . Tenho sede de Tua Glória. Tenho sede de almas... e para refrescar esta sede, derramei até a última gota de Meu Sangue. Por isso posso dizer: "Tudo está consumado". Agora se cumpriu o grande mistério de Amor pelo qual Deus entregou ao mundo Seu próprio Filho, para devolver a Vida ao homem... Vim ao mundo para fazer Tua Vontade, oh Meu Pai. Já está cumprida!

. . . A Ti entrego Minha alma. Assim, as almas que cumprem Minha Vontade poderão dizer com verdade: "Tudo está consumado..." Meu Senhor e Meu Deus, recebe Minha alma... Eu a entrego em Tuas amadas mãos.

. . . Pelas almas agonizantes, ofereci ao Pai Minha morte, e elas terão a Vida. No último grito que lancei da Cruz, abracei toda a humanidade passada, presente e futura; o espasmo lancinante com o qual Me desprendi da terra foi acolhido por Meu Pai com infinito Amor e todo o Céu exultou por ele, porque Minha Humanidade entrava na Glória. No mesmo instante em que entreguei Meu Espírito, uma multidão de almas se encontrou Comigo: quem Me desejava há séculos e séculos, poucos meses ou dias, mas todos intensamente. Pois bem, somente esta alegria bastou para todas as penas sofridas por Mim.

. . . Deveis saber que, em memória daquele gozoso encontro, decidi assistir, e muitas vezes até visivelmente, aos moribundos. Dou a estes a salvação, para honrar aos que tão amorosamente Me acolheram no Céu. Assim, orai pelos moribundos, porque Eu os amo muito. Todas as vezes que fizerdes o oferecimento do último grito que lancei ao Pai, sereis ouvidos; porque por ele Me são concedidas muitíssimas almas.

. . . Foi um momento de júbilo, quando se apresentou diante de Mim toda a Corte Celeste que, compacta e vibrante, esperava Minha morte. Mas entre todas as almas que Me rodeavam, uma estava particularmente alvoroçada; tanto que cintilava de alegria, de amor... Era José que, mais do que nenhum outro, entendia que glória havia adquirido depois de tão duras lutas. Ele conduziu todas as almas que esperavam por Mim; a ele foi concedido ser o Meu primeiro Embaixador no Limbo. Os Anjos, em cada ordem, renderam-Me honra de modo que Minha Humanidade, já resplandecente, foi circundada de inumeráveis Santos que Me adoravam e exaltavam.

. . . Meus filhos, não há cruzes gloriosas na terra; estão todas envoltas em mistério, em trevas, em exasperação. Em mistério, porque não a compreendem; em trevas, porque ofuscam a mente, porque atingem justamente onde não se deseja ser atingido.

. . . Não vos lamenteis, nem vos retardeis; digo-vos que levei não somente a Cruz de madeira que Me conduziu à Glória, mas sobretudo, aquela Cruz invisível mas permanente, que era formada pelas cruzes de vossos pecados. Sim, e de vossos sofrimentos. Tudo o que vós sofreis foi objeto de Minhas penas, posto que não sofri somente para vos dar a Redenção, mas também pelo que vós deveis sofrer agora. Olhai o amor que Me une a vós; nele tendes a confirmação de Meu Santo Querer. Uni-vos a Mim, observando como Eu Me comportei entre ilimitadas amarguras.

. . . Tomei como símbolo um madeiro, uma cruz. Levei-o, com grande amor, pelo bem de todos. Sofri verdadeira aflição, para que todos pudessem se alegrar em Mim. Mas hoje, quantos crêem nAquele que verdadeiramente vos amou e vos ama?... Contemplai-Me na imagem do Cristo que chora e sangra. Ali e assim Me tem o mundo.

 

A RESSURREIÇÃO DE JESUS

. . .À Sexta-Feira Santa se seguiu a aurora gloriosa do Domingo da Ressurreição... Se não decidi destruir o mundo, quer dizer que desejo renová-lo e rejuvenescê-lo. As árvores velhas precisam ser desfolhadas e podadas para que lancem novos brotos. E os galhos velhos, as folhas secas, são queimados.

. . . Separar os cabritos dos cordeiros para que estes possam encontrar, em ordem e bem preparados, pastos férteis onde podem pastar a seu gosto e beber das fontes límpidas da água da salvação... É Meu Sangue redentor, que rega as terras áridas que ficaram desertas do mundo das almas; e correrá sempre sobre a terra este Sangue, enquanto houver um homem a salvar.

. . . Amada esposa, quero o que tu não queres, mas posso o que não poderias conseguir. Tua missão é fazer-Me amar pelas almas, ensiná-las a viver Comigo. Eu não morri na Cruz entre mil tormentos para povoar de almas o inferno, mas de eleitos o Paraíso.

 

DEUS PAI

. . .Vejo trêmulo, lá embaixo, na penumbra do Getsêmani, o Meu Filho que, descido do Céu, tomou a forma e a substância dessa Minha criatura, que pensa e pensou que podia se rebelar contra seu Criador. O homem, aquele homem só e aflito, é a vítima designada e, como tal, deve lavar com Seu próprio Sangue a humanidade toda que representa. Estremece e se horroriza, ao sentir-se coberto, até ver-se dominado, pela inconcebível massa de pecados que deve tirar das negras consciências de milhões e milhões de criaturas sujas.

. . . Pobre Filho Meu, o Amor Te levou a isto e Tu agora estás amedrontado. Quem deverá glorificar-Te no Céu quando, radiante, fizeres Teu ingresso nele? Poderá alguma criatura oferecer-Te um louvor digno de Ti? um amor digno de Ti? E o que é o louvor e o amor de um homem, de milhões de homens, comparado ao Amor com que Tu aceitaste a mais tremenda das provas que jamais poderá existir na terra? Não, Filho amado, ninguém poderá igualar-Te em amor, senão Teu Pai, senão Eu que, em Meu Espírito de Amor, posso louvar-Te e amar-Te pelo Teu sacrifício daquela noite.

. . . Amadíssimo Filho Meu, em quem coloco toda Minha complacência, alcançaste o paroxismo da morte sobrevivendo na agonia amarguíssima do Horto. Tu chegaste, na esfera de Tua Humanidade verdadeira e completa, ao cume da grande paixão que pode ter um coração humano: sofrer pelas ofensas feitas a Mim; mas sofrer por elas com o amor puríssimo e intenso que há em Ti. Tocaste, se bem que com tremor, o limite pelo qual a Humanidade deveria alcançar a Redenção completa. Tu, Filho adorado, conquistaste, com suor de Sangue, não somente as almas de Teus irmãos, mas ainda mais, a Tua Glória pessoal, que devia elevar-Te a Ti, homem, a Mim, Deus como Tu.

. . . Tu impeliste em Mim a mais perfeita justiça e o mais perfeito Amor. Então representavas a Escória do mundo e o fazias por Tua aceitação voluntária e livre. Agora és, entre todos, a honra e a Glória e Minha alegria. Não eras Tu quem Me ofendia, não Tu. Tu sempre foste Meu Filho amado em Quem coloquei Minha complacência. Não eras Tu a Escória, porque, até então, eu Te via como sempre Te vi: Minha Luz, Minha Palavra, isto é, justamente Eu Mesmo. Filho, que tremeste e sucumbiste por Minha honra, Tu mereceste que Teu Pai Te faça conhecido no mundo; neste mundo cego que Nos ofende e que, contudo, Nos é tão querido!

. . . Ah, Filho amadíssimo, Eu Te vejo e Te verei sempre naquela noite de Tua amargura, e Te tenho sempre presente. Por Teu Amor, estou reconciliado às criaturas com as criaturas. E então, não podias erguer para Mim Teu rosto, tão coberto estava de suas culpas. Agora, para alegrar-Te, faço com que levantem seus rostos para Nós, para que, vislumbrando Tua Luz, tornem-se presas de Nosso amor.

. . . Agora, Meu Filho, sempre tão amado, farei o que Te disse quando estavas na sombra do Getsêmani e serão grandes coisas para alegrar-Te e dar-Te honra...

 

A MÃE SANTÍSSIMA

AS DORES DA VIRGEM MARIA

. . .Muitos Profetas falaram de Mim; anteviram que era necessário que Eu sofresse, para chegar a ser digna Mãe de Deus. Anteciparam Meu conhecimento na terra, mas, como tinha que ser, de maneira muito velada. Depois falaram de Mim os Evangelistas, especialmente Lucas, Meu amado médico — mais de almas do que de corpos. Posteriormente, nasceram algumas devoções que tiveram como base as tristezas e dores sofridas por Mim. E assim, é costume se crer e pensar em sete dores principais experimentadas por Mim.

. . . Meus filhos, vossa Mãe premiou e premiará os esforços e o amor que tendes tido por Mim. Mas, como fez Jesus, quero falar-vos mais extensamente sobre Minhas dores. Depois vós falareis sobre elas a outros irmãos, e todos por fim Me imitarão. Pois, pelo que sofri, estou continuamente louvando Jesus e não procuro nada, a não ser que Ele seja glorificado em Mim.

. . . Vede, filhinhos, é triste falar destas coisas a Meus próprios filhos, porque toda mãe oculta suas dores somente para si. E isto já cumpri no transcurso da vida mortal; portanto, Meu desejo de mãe foi respeitado por Deus. Agora que estou aqui onde a alegria é eterna e, tendo já ocultado, como todas as mães, as dores pelas que passei, devo falar delas para que, como Meus filhos, conheçais um pouco de Minha vida.

. . . Conheço os frutos que virão disso e, como agradam a Jesus, Meu adorado Filho, falar-vos-ei delas na medida em que podeis compreender-Me.

. . . Meu Jesus disse: aquele que é o primeiro, faça-se o último. E assim Ele fez verdadeiramente, porque é o primeiro na Casa de Deus, mas Se rebaixou até o último degrau. Agora não tirarei dEle este último e primeiro posto que Lhe cabe por amor. Mas Me esforço por fazer-vos entender esta verdade e Minha alegria ainda maior será quando aceitardes compreender isto, não através de simples entendimento, mas através de uma profunda e arraigada convicção. Seja Ele o primeiro e nós todos, os verdadeiros últimos.

. . . Se Ele era o primeiro, deveria haver um segundo na escala do amor e da glória e, portanto, da baixeza e humilhação. Vós ainda não compreendestes: Esse Ser deveria ser Eu. Filhinhos, louvai a Deus que, ainda que tenha estabelecido uma imensa distância entre Jesus e Eu, quis colocar-Me logo junto a Ele.

. . . Meus filhos, não é o que aparece ao mundo que mais conta diante de Deus. O ter sido escolhida Mãe de Deus implicou para Mim graves sacrifícios e renúncias, e a primeira foi esta: Conhecer por Gabriel a eleição feita na intimidade de Deus. Eu queria permanecer em estado de humilde entendimento e de ocultamento em Deus; desejava isto mais que qualquer outra coisa porque era minha delícia saber-Me a última em tudo.

. . . Ao saber da escolha de Deus, respondi como sabeis, mas Me custou tanto subir à dignidade à qual estava chamada.

. . . Filhinhos: compreendeis esta Minha primeira pena de que vos falo? Refleti sobre ela, dai a vossa Mãe o grande deleite de estimar aquela humildade que Eu estimei muito, acima de Minha virgindade. Sim, Eu era e sou a serva à qual se pode pedir tudo e aceitei somente porque Minha entrega era do mesmo grau de Meu amor.

. . . Foi de Teu agrado, oh Deus, elevar-Me a Ti, e a Mim Me agradou aceitar porque Te era grata Minha obediência. Mas Tu sabes que dor foi para Mim e que essa mesma dor está agora diante de Ti, pedindo luz para estes filhos que amas e que amo. Eu sou a serva! Como se fez comigo assim agora sem hesitação, deixai, oh filhos Meus, que se faça convosco tudo o que Deus quiser!

. . . A aceitação levou a Deus a resposta que levará aos homens o acesso à Redenção; e nisto se cumpriu aquela frase admirável: "Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um Filho que será chamado Emanuel".

. . . O ter aceito ser a Mãe de Emanuel implicava Minha dedicação ao Filho de Deus, de modo que a Mãe dEle se doasse a Ele mesmo antes que a Humanidade de Jesus se formasse em Mim. Por isso, Minha doação foi efeito da Graça, mas também causa da Graça e, ainda que se deva reconhecer a prioridade da causa primeira que é Deus, no entanto se deve afirmar que Minha aceitação atuou no plano da Graça como causa concomitante.

. . . Chamam-Me Corredentora pelas dores que sofri; mas Eu fui Corredentora mesmo antes, pela entrega que havia feito por meio de Gabriel. Oh, Meu Divino Filho! Quanta honra desejaste dar a Tua Mãe em compensação pela grande pena que sofri ao receber a dignidade de ser Tua Mãe!

. . . Vós, filhinhos, estais cegos no mundo, mas, quando virdes, coisas estupendas serão razão de vosso regozijo para Mim. Vereis que união de glória e de humildade há aqui onde Meu Jesus é o sol que jamais se esconde. Vereis que sábio desígnio foi levado a cabo através de Minha renúncia, à baixeza do ocultamento.

. . . Mas agora, escuta-Me. Ao avançar Minha maternidade, tive que falar a algumas pessoas queridas e o disse ocultando, o mais que pude, a honra que havia recebido... Chorei pela renúncia da conquista do segredo em Deus, porque o Mesmo Deus devia ser glorificado em Mim.

. . . No entanto, logo tive a alegria de saber que era considerada como uma mulher entre as outras. Alegrou-se Minha alma, porque diante do mundo era pisoteada a serva de Deus que desejava humilhações como só Eu podia desejar. Quando José se escondeu, não sofri, mas Me alegrei verdadeiramente. Não digam porque sofri com isso, porque não é verdade.

. . . Foi assim que Deus satisfez Meu desejo de humilhações. Foi Esta a compensação do Senhor, de ter chegado a ser a Mãe de Deus: ser vista como uma mulher caída. Filha, aprende a sabedoria do amor, aprende a estimar a santa humildade e não temas porque é virtude que brilha com luz cintilante.

. . . Quando se realizou o casamento, não tive nenhuma contrariedade; sabia como seriam as coisas e não temia nada. Com efeito, Deus dá, a quem se entrega a Ele inteiramente, uma perfeita paz nas situações mais paradoxais, como era a Minha, de ter que desposar-Me, forçada pelo compromisso humano, com um homem, mesmo sabendo que somente a Deus podia pertencer.

. . . Quantas dores passei na terra! Não é fácil ser Mãe do Altíssimo, Eu vos asseguro. Mas tampouco se pode dizer difícil tudo o que se faz por um fim puríssimo e para agradar a Deus. Recordai isto!

. . . Pensastes alguma vez o que mais dor Me causou na noite santa em Belém? Vós distraís a mente com o estábulo, com o presépio, com a pobreza. Pelo contrário, digo-vos que aquela noite a passei toda no êxtase de Meu Filho e, embora tenha tido que fazer o que toda mãe faz com seu pequeno filho, não deixei Meu êxtase, Meu arroubamento e assim, a única coisa que Me causou dor naquela noite de amor, foi ver a aflição de Meu pobre José ao buscar-Me um refúgio, um lugar qualquer. Consciente como estava do que devia acontecer e de Quem devia vir ao mundo, Meu amado esposo, ao ver que Eu estava perturbada, angustiou-se e Me deu muita pena. Logo a alegria nos cumulou aos dois e nos esquecemos de toda angústia.

. . . Fugimos ao Egito e sobre isto já se disse o que era possível, se bem que alguns centram sua imaginação mais na fadiga da viagem do que no temor de uma Mãe que sabia possuir o tesouro do Céu e da terra.

. . . Depois, já vivendo em Nazaré, o pequeno Jesus crescia vivaz, e naquele tempo não nos causou senão pouquíssimas e mínimas aflições. Toda mãe sabe o que é desejar a saúde de seu filho e como qualquer coisinha parece ser uma grande nuvem negra. Meu Filho passou por todas as epidemias e doenças infantis comuns daquela época. Como todas as mães, Eu não podia ser preservada de nenhuma das ansiedades próprias do coração materno.

. . . Mas chegou um dia a verdadeira nuvem negra que escureceu a luz festiva da Mãe de Deus. Aquela nuvem se chama Jesus perdido... Nenhum poeta nem mestre do espírito poderia fazer Maria imaginar que havia perdido a Seu Bem adorado e que não tinha notícias Suas até três dias depois... Filhinhos, não vos assombreis com Minhas palavras, Eu experimentei a maior angústia de Minha vida. Não refletistes o bastante naquelas Minhas palavras: "Filho, Eu e Teu Pai Te procuramos por três dias. Por que nos fizeste isto? Deus Meu, agora que falo a estes amados filhos, não posso deixar de louvar a Ti que Te ocultaste para nos fazer sentir a delícia de Te encontrar. Ah! Como poderia de outro modo conhecer a doçura que derrama na alma um vaso cheio de mel quando se abraça a Seu Tudo?

. . . Vede, também vos falo de Minhas alegrias; mas não sem motivo, associo e uno dores e alegrias. Tirai proveito de tudo o que aconteceu da melhor forma possível. Deus Se oculta para fazer-Se encontrar, alguns conhecem esta verdade; outros, pensando naquela dor atroz de ter perdido Jesus, fazem tudo para encontrá-lO. Não deveis permanecer inertes e abatidos.

. . . Vossa mãe gostaria de vos poupar de tudo o que ainda resta por dizer. Em primeiro lugar, porque são coisas nunca ditas e por isso mesmo ainda não apreciadas. Em segundo lugar, porque ao conhecê-las tereis que unir-vos a Mim em sofrimento e em penosas considerações. Mas já se disse tudo o que Meu Jesus quer, sem oposição alguma.

. . . Credes que passei tranqüilamente a vida de família em Nazaré? Foi tranqüila em virtude da uniformidade com o querer de Deus. Mas por parte das criaturas, quanta guerra houve!...

. . . Notava-se o singular modo de viver que tínhamos e assim conseguimos a zombaria pública. Consideravam-Me uma exagerada pelo único motivo de que todas as vezes que Jesus saía de casa, não podia conter as lágrimas; e Jesus saía com freqüência. José era perseguido como se fosse um escravo Meu e de Jesus. Que poderia compreender o mundo? Deixávamos todo o cuidado para Aquele que entre nós vivia, adorado em todas as Suas manifestações.

. . . Que amor de Filho aquele jovenzinho mais belo que o mar, mais sábio que Salomão, mais forte que Sansão. Todas as mães O teriam tirado de Mim, tal era o encanto em torno dEle. No entanto, os mesquinhos faziam juízos solertes sobre Mim, não poupavam críticas ao infatigável pai que criam ser um submisso de sua fiel mas ciumenta esposa. Todos conheciam Minha integridade, mas acreditavam ser uma paixão egoísta, vulgar.

. . . Isto é o que não se sabe, filhinhos Meus. Isto se passou entre o mundo que não via e não podia compreender, e Sua puríssima Mãe. Jesus Se calava sem animar-Me, porque a Mãe de Deus devia passar pelo crisol, isto é, como uma mulher qualquer à qual não se deviam poupar as críticas.

. . . Admirai a sabedoria de Deus nestas coisas e encontrai aquele sentido divino que une a maior sublimidade às provas que são mais dolorosas com relação a tal sublimidade, porque todo abismo chama outro abismo e toda profundidade chama sua profundidade...

. . . Chegou a hora da separação, a hora da ação de Jesus. Com isso, chegou o dia temido da partida de Nazaré.

. . . Jesus havia Me falado muito extensamente sobre Sua missão, e Me havia feito amar, antecipadamente, os frutos que devia dar a Ele e a todos. Foi necessário, portanto, separamo-Nos, se bem que por breve tempo... Ele Se despediu, nos beijou e Se encaminhou para Sua missão de Mestre da Humanidade. Mas isso não passou desapercebido ao pequeno povoado onde Jesus era tão amado.

. . . Foram demonstrações de afeto, de bênçãos e, por mais que não soubessem bem o que Jesus ia fazer, no entanto se pressentia uma perda para aquela gente de mentalidade pequena, mas, no fundo, de coração generoso.

. . . E Eu, entre tantas manifestações, como Me sentia? Vinham-Me mil sentimentos; mas não retardou nem um minuto Sua partida. Meu Jesus sabia o que Lhe esperava depois da pregação, disse-Me tantas vezes, havia Me falado muito sobre a perfídia dos fariseus e dos demais. E vêem-nO partir assim; sozinho, sem Mim, para cumprir Sua missão. Sem Mim, que O havia feito crescer com o calor de Meu Coração. Sem Mim, que O adorava como ninguém jamais O adoraria!

. . . Depois Eu O segui, encontrei-O quando estava rodeado de tanta gente que não me era possível vê-lO. E Ele, verdadeiro Filho de Deus, deu a Sua Mãe uma resposta sublime como Sua sabedoria, mas que traspassou este coração materno de lado a lado. Sim, Eu O compreendia plenamente, mas nem por isso Me pouparam as dores. Ao parentesco humano, Ele opôs o divino, no qual Eu estava incluída, é verdade, mas no entanto os comentários dos demais não deixaram de ferir-Me.

. . . Ao golpe inicial seguiu-se a alegria de ver Sua grandeza, de vê-lO honrado, venerado e amado pelas pessoas, assim logo cicatrizou-se também esta ferida.

. . . Percorria com Ele os caminhos, extasiada com Seu saber, confortada com Seus ensinamentos e nunca Me saciava de admirá-lO e amá-lO.

. . . Logo vieram os primeiros enfrentamentos com o Sinédrio, aconteceu o milagre que suscitou tanto ruído nas mentes dos Judeus, dos Sacerdotes soberbos. Foi odiado, perseguido, espionado, tentado. E Eu? Eu sabia de tudo e com as mãos estendidas oferecia às Mãos do Pai, desde então, o holocausto de Meu Filho, Sua entrega, Sua espantosa e ignominiosa morte. Já sabia de Judas, já conhecia a árvore da qual se tomariam os madeiros para a Cruz de Meu Filho.

. . . Não podeis imaginar a tragédia íntima que vivi junto com Meu Jesus, para que a Redenção tivesse seu cumprimento.

. . . Eu disse antes: Corredentora; para que o fosse, não bastavam as penas usuais. Fazia falta uma união íntima com o grande sofrimento dEle para que todos os homens fossem redimidos de modo que, enquanto ia de um povoado a outro com Ele, estava cada vez mais ao par do pranto desconsolado que Meu Filho derramava em tantas noites insones que passava em oração e meditação. Ele Me revelava e punha diante de cada estado de ânimo Seu e certamente começou então Meu calvário e Minha cruz.

. . . Quantas considerações agravavam cada dia mais Minhas dores de Mãe dEle e vossa!! Tantos pecados, todos os pecados. Tanta angústia, todas as angústias. Tantos espinhos, todos os espinhos; Jesus não estava sozinho, Ele o sabia, sentia-o, via que Sua Mãe estava em união contínua com Ele. E Se afligia por isso, ainda mais, porque Meu sofrimento era maior sofrimento para Ele.

. . . Meu Filho, Meu Filho adorado, se soubessem estes filhos o que se passou então entre Tu e Eu!...

. . . E chegou a hora do holocausto; chegou depois da doçura da Ceia de Páscoa. E desde então, Eu devia Me reintegrar à multidão; Eu que O amava e adorava de maneira única, devia estar afastada dEle. Compreendei, oh filhos Meus?...

. . . Sabia que Judas estava dando seus passos de traidor e não podia mover-Me; sabia que Jesus havia derramado Sangue no Horto e nada podia fazer por Ele. E logo O aprisionaram, maltrataram-nO, insultaram-nO, condenaram-nO iniquamente!

. . . Não posso dizer-vos tudo. Dir-vos-ei somente que Meu Coração era um tumulto de contínuas ansiedades, um chão de contínuas amarguras, incertezas, um lugar de desolação, de abatimento e desconsolo. E as almas que depois se perderiam? E todas as simonias e truques sacrílegos?

. . . Ó filhos de Minhas dores! Se hoje vos é concedida a graça de sofrer por Mim, bendizei com fervor Àquele que a concedeu, e sacrificai-vos sem hesitação.

. . . Pensai em Minha grandeza, Meus filhos amados. Isso vos ajuda a pensar; mas escutai-Me, não penseis em Mim tanto como nEle. Quisera ser esquecida, se fosse possível! Toda vossa compaixão dêem-na a Ele, ao Meu Jesus, ao vosso Jesus, a Jesus amor vosso e Meu.

. . . Assim, filhinhos, a pena de Meu Coração foi uma contínua espada que traspassou de lado a lado Minha alma, Minha vida. Eu a senti enquanto Jesus não; consolou-Me com Sua ressurreição, quando Minha imensa alegria cicatrizou de uma vez todas as feridas que sangravam dentro de Mim. "Filho Meu", Eu ia repetindo. "Por que tanta desolação? Tua Mãe está junto de Ti. Não Te basta sequer Meu amor? Quantas vezes Te consolei em Tuas aflições? E agora, por que nem sequer Tua Mãe pode Te dar algum alívio?... Ó Pai de Meu Jesus, não quero outra coisa além do que Tu queres, Tu o sabes; mas vê se tanta aflição pode ter alívio; isto Te pede a Mãe de Teu Filho."

. . . E já no Calvário clamei: "Meu Deus, faz voltar àqueles olhos que adoro a luz que neles imprimiste desde o dia em que Tu Mo deste! Pai Divino, vê que horror aquele rosto santo! Não podes enxugar ao menos tão copioso Sangue? Ó Pai de Meu Filho; ó Esposo Amor Meu, ó Tu mesmo, Verbo que quiseste ter a Humanidade de Mim! Sejam oração aqueles braços abertos ao Céu e à terra, sejam a súplica da Sua e Minha aceitação!

. . . Vê ó Deus, a que se reduziu Aquele a Quem amas! É Sua Mãe que Te pede um alívio a tanta tristeza. Daqui a pouco, ficarei sem Ele, assim se cumprirá inteiramente Meu voto quando O ofereci de coração no Templo; sim, ficarei sozinha, mas alivia Sua dor, sem atender à Minha..."

 

Fonte: https://blogmedcatolico.blogspot.com/2015/10/a-paixao-de-cristo-segundo-catalina.html

Busca


Terça-feira, 19 de Março de 2024










Mulher Vestida de Sol