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DOUTRINA TEOLÓGICA SOBRE OS DEMÔNIOS

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Eis aqui, brevemente, a doutrina da Igreja sobre demônios e as principais conclusões alcançadas pelos teólogos com base nos dados revelados. Vale lembrar, que o mal só pode ser explicado teologicamente através da Revelação Divina contida nas Sagradas Escrituras. Vale lembrar também, que teólogos podem errar, mas o Magistério da Igreja não.

1°) É pela fé que existem os demônios, isto é, um número considerável de anjos que foram criados bons por Deus, mas que se tornaram maus por sua própria culpa. Vários Concílios citam os demônios, mas citarei o IV Concílio de Latrão como exemplo e verdade infalível da fé católica:

IV Concílio do LATRÃO : De 11 a 30 de novembro de 1215.

O concílio aprovou, em três solenes sessões (11, 20 e 30 de novembro), resoluções para a reconquista da Terra Santa, a reforma da Igreja e contra as heresias mencionadas a seguir:

Contra a heresia dos albigenses e cátaros:

"Cremos firmemente e confessamos sinceramente que um só é o verdadeiro Deus eterno e imenso, imutável, incompreensível, onipotente e inefável, Pai e Filho e Espírito Santo: três pessoas, mas uma só essência, substância ou natureza absolutamente simples. O Pai não <provém> de ninguém, o Filho só do Pai, o Espírito Santo de modo igual de um e de outro, sempre sem início e sem fim. O Pai gera, o Filho nasce, o Espírito Santo procede. São consubstanciais, coiguais, coonipotentes e coeternos: único princípio do universo, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, espirituais e materiais, que com sua força onipotente desde o princípio do tempo criou do nada uma e outra criação: a espiritual e a material, isto é, a angelical e a mundana; e, depois, a humana, de algum modo comum <a ambas="">, composta de alma e de corpo. Pois o diabo e os outros demônios foram criados por Deus naturalmente bons, mas por si mesmos se transformaram em maus. Já o homem pecou por sugestão do diabo.

Essa santa Trindade, indivisível segundo a comum essência e distinta segundo as propriedades das pessoas, dispensou ao gênero humano, por meio de Moisés, dos outros profetas e dos outros seus servos, a doutrina da salvação, segundo uma disposição dos tempos perfeitamente ordenada.

Enfim, o Filho unigênito de Deus, Jesus Cristo , encarnado por obra comum de toda a Trindade, concebido de Maria sempre virgem com a cooperação do Espírito Santo, tornou-se verdadeiro homem, composto de alma racional e corpo humano, uma só pessoa em duas naturezas, e manifestou mais claramente o caminho da vida. Imortal e incapaz de sofrer segundo a divindade, ele mesmo se fez passível e mortal segundo a humanidade; depois de ter sofrido na cruz e de ser morto pela salvação do gênero humano, desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos e subiu ao céu; mas desceu em alma e ressuscitou em carne, subiu igualmente com uma e outra (a alma de Jesus se separou do corpo e foi ao Inferno, isso mostra que Pe. Quevedo estava errado. Após a morte a alma se separa do corpo); virá ao fim dos tempos para julgar os vivos e os mortos e para premiar cada um segundo as suas obras, tanto os maus como os eleitos. Todos ressuscitarão (só no fim dos tempos e não após a morte como afirmava Pe. Quevedo) com os próprios corpos com que agora estão revestidos, para receber, segundo suas obras, sejam boas ou más, uns a pena eterna com o diabo (ou seja, os condenados irão de corpo e alma para o inferno), outros a glória eterna com o Cristo."

Ainda vemos nas Sagradas Escrituras:

Mt 25, 41 :"Em seguida, dirá aos que estiverem à sua esquerda: 'Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos."

2Pd 2,4: "Com efeito, se Deus não poupou os anjos que pecaram, mas lançou-os nos abismos tenebrosos do Tártaro, onde estão guardados à espera do Julgamento".

2°) Os demônios exercem, com a permissão de Deus, uma influência maligna sobre os homens, incitando-os ao mal e, às vezes, invadindo e torturando seus próprios corpos. Segue-se alguns exemplos das Escrituras:

Ef 6, 11-12: "Revesti-vos da armadura de Deus, para poderdes resistir às insídias do diabo.
Pois o nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os Principados, contra as Autoridades, contra os Dominadores deste mundo de trevas, contra os Espíritos do Mal, que povoam as regiões celestiais."

1Ts 3, 5: "É este o motivo por que, não podendo mais suportar a demora, mandei colher informações a respeito da vossa fé, pois receava que o tentador vos tivesse seduzido e resultasse em nada o nosso trabalho."

1Pd 5, 8-9: "Sede sóbrios e vigilantes! Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um leão a rugir, procurando a quem devorar,
Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que a mesma espécie de sofrimento atinge os vossos irmãos espalhados pelo mundo."

Mt 4,24: "A sua fama espalhou-se por toda a Síria, de modo que lhe traziam todos os que eram acometidos por doenças diversas e atormentados por enfermidades, bem como endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E ele os curava." (Aqui o hagiógrafo diferencia problemas mentais dos possuídos)

Mt 10,1: "Chamou os doze discípulos" e deu-lhes autoridade de expulsar os espíritos imundos e de curar toda a sorte de males e enfermidades."

Lc 8,2: "...assim como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual haviam saído sete demônios"

3°) No meio de ataques e torturas de demônios, a vontade humana sempre permanece livre. O motivo é que, como explica Santo Tomás, a vontade só pode ser de duas maneiras: intrinseca ou extrinsecamente. Agora, somente Deus pode movê-la intrinsecamente, uma vez que o movimento voluntário nada mais é do que a inclinação da vontade à coisa apetecida, e somente Aquele que concedeu a própria inclinação à natureza intelectual pode inmutá-la intrinsecamente; porque assim como a inclinação natural procede do autor da natureza, assim, a inclinação voluntária não vem senão de Deus, que é o autor da mesma vontade. Extrinsecamente, a vontade pode ser movida de duas maneiras: a) eficazmente, ou seja, atuando sobre o mesmo entendimento, fazendo-o apreender o objeto como bem apetecível (e, nesse sentido' somente Deus pode efetivamente mover a vontade, porque somente Ele pode penetrar direta e intrinsecamente no entendimento), e b) ineficazmente, isto é, a modo de simples persuasão («per modum suadentis tantummodo»). E é assim que corresponde aos anjos - bons ou maus - e a outros seres criados, que podem nos influenciar. O demônio, então, só pode mover a vontade extrinsecamente «per modum suadentis», isto é, oferecer aos sentidos externos e internos as espécies das coiqas que incitam ao mal ou excitando o apetite sensitivo, para que tenda desordenadamente a esses bens sensíveis; jamais innnutando intrinsecamente a mesma vontade.

4°) Anjos bons e demônios podem inmutar intrinsecamente a imaginação e outros sentidos internos e externos. O motivo é que essa inmutação pode ser causada pelo movimento local de coisas extemas ou de nossos humores corporais, e a natureza corporal obedece ao anjo em termos de seu movimento local, como explica Santo Tomás.

5°) Os demônios não podem realizar verdadeiros milagres, no entanto, podem exceder por definição as forças de toda a natureza criada ou criável. Mas como a potência da natureza angélica — que eles retêm por completo após o pecado — excede em muito as forças naturais humanas, os demônios podem fazer coisas prodigiosas, que excitam a admiração do homem enquanto superam suas forças e conhecimentos naturais.

O demônio, portanto, tem uma potência natural muito superior à do homem e pode fazer com ela coisas prodigiosas, as quais, sem serem verdadeiros e próprios milagres, estimulam a admiração dos homens e apresentam problemas reais para o discernimento desses fenômenos em relação com os naturais e os sobrenaturais.

A) O QUE O DEMÔNIO NÃO PODE FAZER

1°) Produzir um fenômeno sobrenatural de qualquer tipo. É algo que vai além e transcende toda a natureza criada ou criável, sendo próprio e exclusivo de Deus.

2°) Criar uma substância. Supõe um poder infinito passar uma coisa do nada ao ser. Portanto, as criaturas não podem ser usadas por Deus nem sequer como instrumentos de criação.

3°) Ressuscitar verdadeiramente um morto. Poderia simular uma ressurreição, desmaiando a um enfermo ou produzindo um estado de morte aparente nele para produzir a ilusão de sua maravilhosa ressurreição.

4°) Curar instantaneamente feridas ou chagas profundas. A natureza - mesmo nas mãos da potência angélica - sempre requer certo tempo para poder realizar essas coisas. O instantâneo está somente nas mãos de Deus.

5°) As translações verdadeiramente instantâneas. Supõe uma alteração das leis da natureza, que unicamente pode ser realizada por seu Autor. O demônio, como um puro espírito, pode mover-se de um lugar para outro sem passar pelo meio. Mas não pode mover um corpo sem que este tenha que percorrer todo o espaço que separa o ponto de partida (termo a quo) do ponto de chegada (termo ad quem); e isso não pode ser feito instantaneamente, por muito rápido que suponhamos esse movimento.

6°) As leis atuais não permitem de modo algum a compenetração de corpos sólidos. O demônio, espírito puro, pode indubitavelmente passar por substâncias materiais a seu critério; mas conferir a um corpo o privilégio de compenetrar-se com outros atravessando, por exemplo, uma parede — implica uma virtude transcendente que Deus reserva para si.

7°) A profecia propriamente dita ultrapassa as forças diabólicas, embora o demônio possa simulá-la com a ajuda de previsões naturais, fórmulas enganosas ou de mentiras ousadas. Contudo, Deus pode usar falsos profetas para anunciar algo verdadeiro, como no caso de Balaão ou de Caifás; mas então aparece claro, a partir do conjunto de circunstâncias, que o falso profeta é usado naquele momento como instrumento de Deus.

8°) O conhecimento dos pensamentos e futuros livres escapa completamente ao controle de Satanás; só pode valer-se de conjecturas. Mas saiba-se de que, para a extraordinária potência intelectual da natureza angélica, as conjecturas são muito mais fáceis do que para o psicólogo mais eminente; temperamento, hábitos adquiridos, experiências passadas, atitude corporal, expressão de fisionomia, conjunto de circunstâncias etc., etc., facilitam aos espíritos angelicais adivinhar as meditações silenciosas de nosso entendimento e determinações secretas da nossa vontade.

9°) O demônio não pode produzir em nós fenômenos de ordem puramente intelectual ou volitiva. Já apontamos a razão acima: no santuário de nossa alma, ninguém, fora de Deus, pode penetrar diretamente.

Essas são, brevemente expostas, as principais coisas que o demônio não pode fazer, todas relacionadas a fenômenos místicos. Omitimos muitas outras coisas que não interessam ao nosso propósito.

Vejamos agora rapidamente os fenômenos místicos que o demônio poderia falsificar.

B) O QUE O DEMÔNIO PODE FAZER SE DEUS PERMITIR

1) Produzir visões ou locuções corporais ou imaginárias (não intelectuais).

2) Falsificar o êxtase (produzindo um desmaio preternatural).

3) Produzir resplendores no corpo e ardores sensíveis no coração.

4) Produzir ternuras e suavidades sensíveis.

5) Curar, inclusive instantaneamente, certas enfermidades estranhas causadas por sua ação diabólica. Obviamente, não se trata propriamente de cura, mas apenas «parar de prejudicar», como disse Tertulliano: «Lædunt enim primo, dehinc remedia præcipiunt, ad miraculum, nova sive contraria; post quæ desinunt Iædere, et curasse creduntur». Como a pretendida enfermidade era devida à ação exclusiva do demônio, cessando a causa, desaparece instantaneamente o efeito.

6) Produzir estigmatização e outros fenômenos corporais e sensíveis da mística, como os odores suaves, coroas, anéis, etc. Nada disso excede as forças naturais dos demônios.

7) O demônio não pode derrogar as leis da gravidade, mas pode simular milagres desse gênero pelo concurso invisível de suas forças naturais. Lembre-se da questão da levitação: podem ocorrer levitações diabólicas, como no caso de Simão Mago.

8) Pode subtrair os corpos à nossa vista, interpondo entre eles e nossa retina um obstáculo que desvie a refração da luz ou produza em nosso aparato visual uma impressão subjetiva completamente diferente daquela que veria do objeto.

9) Pode produzir a incombustão de um corpo, interpondo um obstáculo invisível entre ele e o fogo.

Em resumo: todos os fenômenos que podem resultar de um movimento natural de forças físicas, embora o homem não seja capaz de produzi-las, mesmo levando suas energias naturais ao limite máximo, podem ser produzidas pelo demônio — suposta permissão divina - em virtude de sua própria potência natural, extraordinariamente superior à do homem. Mas, qualquer que seja a natureza do fenômeno produzido pelas forças diabólicas, nunca excederá a esfera e a ordem puramente naturais. O sobrenatural não existe aqui, exceto em relação ao homem, isto é, na medida em que os fenômenos produzidos superam as forças humanas; mas, consideradas em si mesmas, são realidades puras e simplesmente naturais. É um caso típico de sobrenatural relativo, que deve ser chamado, com maior precisão e exatidão teológica, «preternatural».

Antônio Royo Marín

Visto em: https://gloria.tv/post/6G87w6vqigdm2XXc96psdQk6F

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Sexta-feira, 29 de Março de 2024










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