A devoção a Nossa Senhora do Monte Berico, reconhecida oficialmente pela Igreja Católica, teve origem em Vicenza, norte da Itália, durante um período de sofrimento intenso provocado pela peste. As aparições da Virgem Maria à camponesa Vincenza Pasini, em 1426 e 1428, deram início a uma das mais consoladoras manifestações marianas da Europa. O santuário construído no local tornou-se centro de peregrinação, milagres e intercessão — inclusive com vínculo a eventos da Primeira Guerra Mundial e visitas de papas.
Em 7 de março de 1426, Nossa Senhora apareceu para Vincenza Pasini, uma senhora de quase setenta anos, que vivia na cidade de Vicenza. Itália. A cidade sofria há anos de uma praga terrível, e pelo empobrecimento por esta causado. Naquela época, a velha senhora morava na encosta do Monte Berico; e lá subia todas as manhãs para levar alimento a seu marido, o lenhador Francesco de Giovanni de Montemezzo, que lá cultivava uma vinha. Vincenza levava uma vida simples e honesta. Muito piedosa e devota de Maria Santíssima, suas orações, e, em especial, sua caridade para com todos, faziam dela uma verdadeira cristã.
Eram nove horas da manhã naquele dia, quando Vicenza chegou ao topo da colina e se deparou com uma mulher em sua frente. Com a aparência de uma belíssima rainha e vestes mais resplendentes que o sol, a pobre senhora perdeu as forças diante de tanta beleza, e caiu de bruços no chão. Então, segurando-a pelo braço, a belíssima mulher a levantou e lhe disse:
“Eu sou a Virgem Maria, a Mãe de Cristo morto na cruz para a salvação dos homens. Peço-te que vás dizer em meu nome ao povo de Vicenza que construa neste lugar uma igreja em minha homenagem, se quiser recobrar sua saúde; do contrário, a peste não cessará”.
Enquanto chorava de alegria, Vincenza respondeu: “Mas o povo não acreditará em mim. E onde, ó Mãe gloriosa, poderemos encontrar dinheiro para fazer estas coisas?”.
“Insistirás para que esse povo execute a minha vontade, do contrário nunca será libertado da peste; e, enquanto não obedecer, verá meu filho irado contra ele. Para provar o que digo, que eles escavem aqui, e da rocha maciça e árida jorrará água; e, assim que se iniciar a construção, não faltará dinheiro”, respondeu Nossa Senhora.
Assim falando, a Virgem usou um raminho de oliveira em forma de cruz para marcar no chão o lugar e a forma que deveria ser construída a igreja. E, acrescentou: “Todos aqueles que visitarem esta igreja com devoção em minhas festas e em todo primeiro domingo do mês terão como dom a abundância das graças e da misericórdia de Deus e a bênção de minha própria mão materna”.
Assim que Dona Vincenza desceu à cidade de Vicenza e contou sobre o pedido a Mãe de Deus, ninguém lhe deu crédito. Até mesmo o bispo, Dom Pietro Emiliani, a considerou como uma velha sem juízo. Enquanto isso, a terrível epidemia continuava a piorar. Vincenza nada pôde fazer além de retomar sua vida de sempre, com seus trabalhos, orações e obras de caridade.
Dois anos se passaram…
Haviam se passado dois anos, e a crise sanitária permanecia assolando a população. Mas, a velha Vincenza continuava a ser a única a acreditar nos pedidos de Nossa Senhora. Ela não deixava de visitar o local onde Nossa Senhora lhe aparecera, especialmente nas festas da Virgem. Até que, em 1º de agosto de 1428, Nossa Senhora reapareceu para a pobre velhinha e repetiu o mesmo pedido e as mesmas promessas. Desta vez, quando Vincenza gritava para todos sobre a nova aparição, algo mudou no espírito das pessoas, e a cidade enfim acreditou. O prefeito e o Conselho da cidade logo decidiram construir, o mais rápido possível, a igreja no Monte Berico. Em 25 de agosto, apenas vinte e quatro dias após a segunda aparição, foi dado início à construção. E, desde esse dia, a peste começou a diminuir.
Conforme as promessas de Nossa Senhora, uma fonte logo jorrou durante os trabalhos de escavação; a abundância dessa água era tal que fazia muito barulho enquanto descia rapidamente pelo monte. Além disso, segundo a outra promessa da Virgem, as ofertas para a construção também começaram a surgir em grande quantidade. Depois de três meses, assim que a construção da igreja ficou pronta, a peste também desapareceu completamente em toda a província!
Em 1917, a cidade é salva mais uma vez por Nossa Senhora do Monte Berico.
Em 25 de fevereiro de 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, a cidade de Vicenza fez um voto solene a Nossa Senhora do Monte Berico, prometendo que, “se nossas terras se conservarem incólumes, nós vos prometemos santificar perpetuamente o dia de Vossa Natividade, tendo-o como sagrado e festivo”. E, é por isso que desde então, o dia 8 de setembro é festa oficial da cidade. Pois, foi graças a Virgem do Monte Berico que a cidade foi preservada da destruição que tantos de seus vizinhos próximos sofreram.
A imagem de Nossa Senhora do Monte Berico
No interior da atual Basílica de Monte Berico, encontra-se a imagem venerada da Virgem Maria, descrita nos registros como: “Uma imagem imponente em mármore, pintada com habilidade em várias cores preciosas.” A escultura retrata Nossa Senhora sorrindo, com véu dourado, vestido rico e manto verde-dourado. Embaixo de seu manto, abrigam-se homens, mulheres e crianças, representando seu amparo maternal sobre todos. Em 1890, a imagem recebeu uma coroa de ouro colocada pelo então patriarca de Veneza, Cardeal Giuseppe Sarto, futuro Papa Pio X.
Nossa Senhora do Monte Berico, refúgio em tempos de aflição
As aparições da Nossa Senhora do Monte Berico são um poderoso testemunho da solicitude materna de Maria diante do sofrimento humano. Sua intervenção em tempos de peste, guerra e crise revela sua constante presença ao lado do povo fiel. O santuário permanece como farol de esperança e consolo espiritual, recebendo milhares de peregrinos em busca de cura, paz e conversão. Reconhecida oficialmente pela Igreja, essa devoção mariana é símbolo de intercessão poderosa, fé vivida e comunhão entre céu e terra, no coração da cidade de Vicenza, Itália.