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O SEGREDO DA VIRGEM MARIA - 1ª Parte: O lugar que Maria desempenha na nossa santificação

 

NECESSIDADE DE SANTIFICAR-SE POR MEIO DE MARIA

O que Deus exige de ti é que a tua alma, feita à Sua imagem e remida com o sangue de Cristo, chegue a ser, nesta vida, santa como Ele, e, como Ele, feliz na outra. A tua vocação mais certa consiste na aquisição da santidade, para onde devem convergir todos os teus pensamentos, palavras, obras, sofrimentos: numa palavra, todos os movimentos da tua vida.

Deves preocupar-te, por conseguinte, em não resistir à vontade de Deus, transcurando o grande fim para que unicamente te criou e te conservou até agora!

Que maravilha! O lodo mudado em luz, a imundície em pureza, o pecado em santidade, a criatura no Criador, o homem em Deus! É uma obra admirável, repito, porém, difícil, de per se só, e inatingível pela natureza humana exclusivamente. Ninguém a pode levar a cabo sem a graça de Deus, e uma graça tão abundante e extraordinária. A criação do universo não foi uma obra tão grande como esta.

E tu, como a realizarás em ti próprio? Que meios pensas adotar para atingir a perfeição a que Deus te chama? Todos nós conhecemos os meios de santificação e salvação: estão registados no Evangelho, que foram explicados pelos mestres da vida espiritual e postos em prática pelos santos. Quem se quer salvar e atingir a perfeição precisa de espírito de humildade, de filial abandono aos braços da Providência Divina e de conformidade à vontade de Deus.

Para pôr em prática estes meios é, sem dúvida, absolutamente necessária a graça de Deus que, mais a uns, menos a outros, é dada a todos... Digo mais a uns menos a outros, porque Deus, não obstante ser infinitamente bom, não dá a todos o mesmo grau de graça, ainda que não deixe de dar o suficiente a nenhum. Uma alma fiel, com muita graça, pode dar grandes passos, e com pouca, pequenos.

O que dá valor e faz subir o preço das nossas ações é a graça dada por Deus e secundada pela alma.

Todos estes são princípios incontestáveis.

Por isso, tudo se reduz a encontrar um meio fácil em que se obtenha de Deus a graça necessária para ser santos, e é precisamente isso que te quero ensinar. Portanto, sem mais e desde já te digo que, para encontrar esta graça de Deus, é necessário encontrar Maria Santíssima.

 

CARGO E PRERROGATIVAS DA SANTÍSSIMA VIRGEM

  1. Maria somente encontrou graça diante de Deus, tanto para si como para todos e para cada um dos homens em particular; aquela graça que nem os patriarcas, nem os profetas, nem qualquer santo do Antigo Testamento puderam encontrar.

  2. Foi ela que deu o corpo e a vida ao autor de toda a graça, e por esta prerrogativa lhe chamam Mater gratie, Mãe da graça.

  3. Deus Pai, de quem provêm como de fonte essencial todas as graças, dando-lhe o Seu divino Filho, deu-lhe também todas as graças: de maneira que, como diz São Bernardo, n´Ele e com Ele foi-lhe dada a própria vontade de Deus.

  4. Deus escolheu-a para tesoureira, administradora e dispenseira de todas as graças, de modo que todos os dons passam pelas suas mãos, e em conformidade com este poder, acrescenta São Bernardino, ela distribui a quem quer, como quer, quando quer e na medida que quer, as graças do eterno Pai, as virtudes de Jesus Cristo e os dons do Espírito Santo.

  5. Como na ordem natural é necessário que uma criança tenha um pai e uma mãe, assim na ordem sobrenatural é necessário que um verdadeiro filho da Igreja tenha Deus por Pai e Maria por Mãe; e quem se gabasse que tem Deus por Pai e não nutrisse uma verdadeira ternura filial por Maria, cairia num grande engano, pois que por pai não lhe restaria senão o demónio.

  6. Dado que Maria formou a cabeça dos predestinados, Jesus Cristo, compete-lhe também formar os membros desta cabeça, os cristãos; pois que uma mãe não forma uma cabeça sem os membros, nem os membros sem a cabeça. Quem por isso quer ser membro de Jesus Cristo, cheio de graça e de verdade, deve formar-se em Maria, mediante a graça de Jesus, que reside nela em toda a sua plenitude exatamente para depois se comunicada aos verdadeiros membros de Jesus Cristo e aos verdadeiros santos.

  7. O Espírito Santo que escolheu Maria para esposa, nela, por meio dela e dela produziu a sua obra-prima, o Verbo encarnado Jesus, e, como jamais a repudiou, todos os dias continua a produzir nela e por meio dela os predestinados, de uma maneira verdadeiramente misteriosa.

  8. Deus participou a Maria um domínio especial sobre as almas, para que as alimente e faça crescer. Santo Agostinho até chega a dizer que os predestinados deste mundo estão todos como que fechados no seio de Maria e não vêm à luz enquanto esta boa Mãe os não conduza à vida eterna. Como a criança recebe da mãe todo o alimento, assim todos os predestinados recebem de Maria toda a alimentação espiritual e todas as forças.

  9. É unicamente a Maria que o Pai Celeste diz: In Jacob inhabita: reside, ó minha filha, em Jacob, ou seja, nos Meus eleitos, reconhece-te em Jacob. A Maria diz o divino filho: In Israel inhaereditare: herda, ó Minha Mãe, em Israel, ou seja, nos predestinados; a Maria, enfim, diz o Espírito Santo: in electis meis mitte radices; estabelece-te, ó minha esposa fiel, nos meus escolhidos. Por isso, cada um que queira pertencer ao número dos eleitos e predestinados deve ter Maria como hóspede da sua casa, ou seja, da sua alma e deixar que lá semeie raízes da profunda humildade, de caridade ardente e de todas as outras virtudes.

 

COMO MARIA FORMA JESUS EM NÓS

Santo Agostinho chama a Virgem com o nome de modelo, molde de Deus: forma Dei; e é-o, na verdade. Quero dizer que somente nela se formou o Homem-Deus, ao natural, sem lhe faltar nenhum dos alineamentos divinos; e é igualmente só nela que o homem se pode transformar em Deus ao natural, enquanto a natureza humana o pode conseguir com a graça de Jesus Cristo.

O artista pode reproduzir ao natural, de duas maneiras, uma estátua ou um busto: trabalhando a matéria dura e informe a golpes de cinzel e outros instrumentos adaptados, ou extraindo-a de um molde. O primeiro modo é longo, difícil e exposto a muitos enganos, pois basta um golpe de martelo ou de buril mal dado para arruinar tudo. O segundo, ao invés, é rápido, fácil e agradável, quase sem fadiga nem dispêndio, desde que o molde seja perfeito e represente ao natural a figura, e a matéria de que nos servimos seja maleável e não oponha qualquer resistência à mão.

O grande molde de Deus preparado pelo Espírito Santo para formar ao natural um Deus-homem, mediante a união hipostática, e para formar um homem-Deus mediante a graça, é Maria Santíssima.

Nem um só dos lineamentos divinos falta a este molde; quem quer que se meta nele e se deixe manejar, recebe imediatamente os lineamentos de Jesus Cristo, verdadeiro Deus. E isto dá-se de uma maneira suave e proporcionada à fraqueza humana, sem grandes penas e fadigas; de maneira segura, sem receio de ilusões, pois o demónio não pode lá tomar parte e jamais poderá entrar onde estiver Maria; de maneira santa e imaculada, sem a mínima mancha de culpa.

Que diferença entre uma alma formada em Jesus Cristo com os meios ordinários, à maneira do escultor que confia na própria habilidade, e uma outra alma dócil, simples, bem formada, que longe de confiar em si própria se mete em Maria e lá se deixa manejar pela ação do Espírito Santo! Quantas manchas, quantos defeitos, quantas obscuridades, quantas ilusões, e quanto de natural e humano há na primeira! Como, ao invés, é pura, divina e semelhante a Jesus Cristo a segunda!

Nunca se há-de encontrar uma criatura, nem entre os santos, nem entre os próprios querubins e serafins do Céu, onde Deus manifeste tanto as Suas perfeições externas e internas como em Maria Santíssima. Ela é o paraíso de Deus, o Seu mundo inefável, onde entrou a segunda Pessoa da Santíssima Trindade para operar maravilhas, para guardá-la e lá depositar as suas complacências. Deus fez um mundo para o homem terreno que é a Terra que habitamos, e um mundo para o homem glorificado, que é o paraíso; mas fez também um mundo para Si próprio, pondo-lhe o nome de Maria: mundo desconhecido para quase todos os mortais da Terra e incompreensível até para os santos e anjos do Céu, os quais, estupefactos por verem Deus tão acima deles, tão longe e oculto neste mundo da divina Maria, clamam incessantemente:«Santo, Santo, Santo!».

Feliz, mil vezes feliz sobre a Terra, a alma a quem o Espírito Santo revela o segredo de Maria, a fim de que o conheça, a quem abre este jardim fechado até que lá entre, esta fonte lacrada até que lá encontre a água viva da graça e mate a sede à sua corrente. Esta alma encontrará Deus sem mescla de criaturas, nesta amabilíssima criatura, e um Deus que, além de Se mostrar infinitamente Santo e sublime, mostra-Se também infinitamente condescendente e ao alcance da nossa fraqueza. Deus está sempre presente em toda a parte, pode-Se encontrar até no inferno: mas não há um lugar em que a criatura O possa encontrar tão pertinho e ao alcance da sua fraqueza como em Maria, e de facto desceu e encarnou precisamente nela. Em todas as outras partes, Ele apareceu como o Pão dos fortes e dos anjos, em Maria, ao invés apareceu como o Pão dos pequeninos, das crianças.

Ninguém, portanto, pense, como certos falsos mestres, que Maria sirva de impedimento à união com Deus pelo motivo de ser também ela uma simples criatura. Não é já Maria que vive, é Jesus Cristo, é Deus que vive nela. A transformação de Maria em Deus supera aquela atingida por São Paulo e outros santos, mais do que quanto o Céu se eleva sobre a Terra. Maria nasceu unicamente para Deus, e longe de entreter as almas em si, faz de maneira que enderecem o seu voo para Deus e tanto mais perfeitamente os une a Ele, quanto mais unidas estão a ela.

Maria é o eco admirável de Deus. Quando se grita: «Maria», nada mais responde que:«Deus», e quando se saúda «bem-aventurada» com Santa Isabel, ela nada mais faz que exaltar a Deus. Se os falsos mestres, de quem tanto o demónio tem abusado, até na oração, tivessem sabido encontrar Maria e por Maria, Jesus, e por Jesus, Deus, não teria dado tão solenes cabeçadas. Uma vez que por Maria se encontrou Jesus e por Jesus Deus Pai, tem-se todo o bem, como costumam dizer as almas santas. E dizendo todo o bem compreende-se tudo: a defesa dos inimigos de Deus, a verdade contra a mentira, a facilidade de vencer as dificuldades no caminho da salvação, a alegria e a suavidade nas amarguras da vida.

Não é que quem encontrou Maria com a perfeita devoção fique isento de cruzes e sofrimentos... pelos contrário, terá ainda mais que os outros, pois a Virgem Mãe dos viventes dá aos seus filhos pernadas da árvore da vida, isto é, da Cruz de Jesus; mas ao distribuir estas cruzes, dá também a graça para as levar com paciência e até com alegria, de forma que as cruzes que manda aos seus filhos são cruzes por assim dizer doces, antes que amargas, ou se antes sentem, por algum tempo, a amargura do cálice, que os amigos de Deus necessariamente devem beber, a consolação e alegria que esta boa Mãe faz suceder depois à tristeza, dá lenitivo e coragem para levar outras cruzes ainda mais pesadas e mais amargas.

 

CONCLUSÃO

Concluamos pois que toda a dificuldade está em saber verdadeiramente encontrar Maria Santíssima e com ela a abundância de todas as graças. Deus é Senhor absoluto de tudo, e pode, quando quer, comunicar diretamente o que ordinariamente não comunica senão por intermédio de Maria; e seria mesmo temerário negar que por vezes o faça; contudo, consoante a ordem estabelecida pela sabedoria divina, como afirma São Tomás, Deus, na ordem da graça, não Se comunica, de ordinário, aos homens, senão por meio de Maria. Para elevar-se e unir-se a Ele, é indispensável servir-se do próprio meio que Ele usou para se fazer homem e comunicar as Suas graças; isto é a verdadeira devoção à Virgem Santíssima.


Visto em: https://www.nadateespante.com/o-segredo-da-virgem-maria/

 

Leia também... O SEGREDO DA VIRGEM MARIA – 2ª Parte: A verdadeira devoção à Virgem ou santa escravidão de amor


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Sábado, 27 de Julho de 2024










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